quinta-feira, setembro 27, 2012

A OCDE põe a nu afirmações falsas do ministro - crónica de Santana Castilho

A OCDE publicou o seu habitual relatório “Education at a Glance”, com o qual pretende influenciar as políticas seguidas pelos países membros, em obediência aos dogmas da economia de livre mercado. Se é certo que a educação não pode ignorar as realidades económicas, não menos certo é que a sua missão primeira é desenvolver pessoas, que não mercados. Eis a razão por que olho com reserva o que a OCDE conclui sobre os sistemas educativos. Porém, é de estudos da OCDE, adulterados ou parcialmente lidos, que os detractores dos professores e da escola pública se socorrem muitas vezes para envenenar a opinião pública. Por isso, faz sentido trazer a público alguns dados que desmentem as últimas atoardas propaladas.

São as escolas mais autónomas? Não! 78 por cento das decisões são tomadas a nível central e 22 por cento a nível das escolas (dados de 2011, gráfico D6.1, publicação em análise). A autonomia das escolas melhorou, como diz o discurso oficial? Não! Foi reduzida para metade! Em 2007, as escolas tomavam 43 por cento das decisões (gráfico D6.6).

Nuno Crato disse na TVI que a população escolar tinha diminuído em 200 mil alunos nos últimos três anos. Não é verdade. A população escolar teve um crescimento de 71.883 alunos, como fundamentei no meu artigo de 12.9.12. Ao “Sol” (7.9.12) disse o ministro: “… A natalidade diminuiu, o número de estudantes diminuiu, daqui a quatro anos vai diminuir ainda mais …”. Falso, diz também a OCDE! Nas projecções que estabelece para 2015 (gráfico C1.3) consta um decréscimo de alunos (dois por cento) na faixa etária dos cinco aos 14 anos, largamente compensado com o acréscimo (10 por cento ou mais) para a classe dos 15 aos 19 anos. A OCDE, comentando o quadro citado, refere como excepção aos reflexos da demografia no número de alunos matriculados os casos da Dinamarca, Noruega, Israel, Luxemburgo, México, Portugal e Turquia. Nuno Crato ignorou que acabaram de chegar ao sistema os primeiros alunos atingidos pela extensão do ensino obrigatório até aos 18 anos. E ignorou que cerca de 50 por cento da população jovem ainda não completa o ensino secundário. É grave, seja qual for a razão por que o fez.

A frase malévola “temos menos alunos por professor do que a Áustria”, deixada cair por Nuno Crato na entrevista ao “Sol”, é esclarecida pela OCDE, no que importa. O tamanho médio das turmas portuguesas em 2010, antes portanto das alterações determinadas por Nuno Crato, é superior, portanto pior, à média da OCDE e ao tamanho das turmas na Áustria (gráfico D2.2). Se nos ativermos ao ensino básico, a posição da Áustria é mais favorável (10 níveis de diferença) que a de Portugal (gráfico D2.1). Com o aumento do número de alunos decretado por Nuno Crato, sairemos do meio para a cauda da tabela. Que pretendeu o ministro, que não tem carência de conhecimento para interpretar indicadores estatísticos, quando se alistou no grupo dos que confundem a dimensão das turmas, com que os professores realmente trabalham, com uma relação descontextualizada entre os números totais de professores e alunos? Confundir, deliberada e maliciosamente, a opinião pública? Essa relação directa só permitiria comparações quando corrigida por variáveis que Nuno Crato não pode ignorar, a saber, entre outras: número de disciplinas por aluno (uma só turma pode ter uma dezena de professores); professores absorvidos pela infernal máquina administrativa do ministério; professores destacados em sindicatos; professores afastados do sistema, por desempenho de outras funções públicas não relacionadas com a educação; professores com horários exíguos, contabilizados como se tivessem horários completos; professores com redução da componente lectiva, por problemas de doença; professores envolvidos no Programa Integrado de Educação e Formação (último recurso para jovens problemáticos, que supõe turmas muito pequenas e tutorias especiais); professores que suprem necessidades educativas especiais (cegos, surdos, deficientes motores ou mentais, por exemplo) e número de horas consumidas pelos professores em tarefas burocráticas, grotescamente inúteis.

Observada no conjunto dos indicadores, a fotografia do país não é boa. Mas quando os gráficos reflectirem as inevitáveis consequências sobre os alunos da degradação da actividade profissional dos docentes e da precariedade e insegurança que Nuno Crato lhes vem impondo, ficará bem pior. Portugal tem, pelo menos, três talibans no Governo: Gaspar, Passos e Crato. Vivem obcecados por um problema circunstancial, financeiro, sem entenderem que os cortes cegos em áreas estratégicas, como é a educação, comprometem o futuro e pioram o imediato. Do seu consulado vão resultar jovens menos autónomos e felizes e adultos mais pobres e desesperados. É inaceitável para Portugal.

terça-feira, setembro 25, 2012

As vacas sagradas

"Há privilégios em que nenhum governante teve até hoje coragem de tocar. São despesas públicas inatacáveis, sagradas, as mais onerosas das quais são os juros da dívida pública, as rendas das parcerias público-privadas e as regalias da EDP.
Os juros de dívida são actualmente a maior despesa do estado e consomem cerca de nove mil milhões de euros por ano. Representam mais do que todo o serviço nacional de saúde, equivalem ao valor de salários de toda a função pública. Apesar de conseguir hoje financiamentos a taxas inferiores a dois por cento, o governo continua a pagar os juros agiotas contratados na Banca nos tempos negros de Sócrates. Poderia colocar dívida internamente através de certificados de aforro a uma taxa de três por cento, mas prefere pagar ao FMI a cinco.
A esta iniquidade juntam-se as rendas pagas pelas PPP, em particular as rodoviárias. Neste modelo de negócio, garantem-se rentabilidades obscenas às concessionárias, da ordem dos 17%. A renegociação dos contratos constitui uma exigência da Troika, mas os privados mantêm os seus privilégios intactos, até hoje. O governo deveria suspender de imediato os pagamentos e obrigar à redução das rendas. Em alternativa, poderia nacionalizar, pelo seu justo valor, os equipamentos concessionados; ou até alargar os prazos da concessão, desde que passasse a receber rendas, em vez de as pagar.
O terceiro dos roubos institucionalizados consiste na extorsão, através da factura da electricidade, de rendas para financiar negócios na área de energia. Hoje, apenas 60% do valor da factura corresponde a consumos. O remanescente é constituído por impostos e outras alcavalas, pomposamente designadas de serviços de interesse económico geral. Estes tributos enriquecem os parceiros da EDP, subsidiando nomeadamente as eólicas e tornam o preço da energia incomportável. Assim, as famílias mais humildes passarão frio no Inverno, algumas empresas deixam de ser viáveis e encerram.
Impõe-se a redução dos custos energéticos. É também urgente a diminuição dos gastos com as PPP e com os juros de dívida. Mas, por falta de coragem, os governantes preferem deixar o povo à míngua, enquanto alimentam estas autênticas vacas sagradas".
 
Paulo Morais
CM

sábado, setembro 22, 2012

Governo corta 7675 professores

"O Ministério da Educação contratou até quinta-feira 9602 professores, menos 7675 docentes do que no ano passado. As contas são da Fenprof e referem-se aos processos de colocação de fim de Agosto e às duas primeiras bolsas de recrutamento, agora concluídas. No ano lectivo 2011/2012 foram contratados 17 277 professores. Este ano, segundo a Fenprof, foram contratados menos 5171 professores a 31 de Agosto; menos 736 na primeira bolsa de recrutamento e menos 1768 na segunda bolsa, que fechou no dia 20".
CM 

sexta-feira, setembro 21, 2012

A canalhice de alguns diretores

A Federação Nacional da Educação (FNE) vai sexta-feira pedir ao ministro Nuno Crato que intervenha nos casos de professores com horas de aulas "excessivas" e nas situações em que os professores mais graduados são preteridos no recrutamento.
O secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, disse à agência Lusa que há casos em que "o tempo de trabalho dos professores com os alunos excede aquilo que a lei prevê", o que não lhes deixa tempo para o seu trabalho individual, para as reuniões com pais, outros professores ou para corrigir testes, preparar aulas ou fazer investigação.

quarta-feira, setembro 19, 2012

Professores vão ser escolhidos por entrevista

"Critério terá peso de 50% para atribuir horários em falta. O resto resulta da graduação profissional
Os professores candidatos aos 690 horários disponíveis vão ser alvo de uma entrevista que terá um peso de 50% na selecção. De acordo com o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida, - que esteve ontem no Parlamento - os professores que vão ser contratados pelas escolas "vão ser seleccionados através de um processo em que há um peso de 50% da graduação profissional e de 50% de uma entrevista ou ponderação curricular".
Em resposta ao deputado do PS, Acácio Pinto, que fez críticas aos erros do processo da colocação de professores, Casanova de Almeida disse que este é "um processo de recrutamento mais transparente e equilibrado". A medida resulta do novo decreto-lei sobre o concurso de professores, já em vigor, que foi negociado com os sindicatos. Assim, numa primeira fase de selecção, as escolas vão fazer um levantamento dos professores candidatos aos horários tendo em conta o tempo de serviço (graduação profissional). "Desse levantamento cabe às escolas entrar em contacto com os cinco docentes com mais tempo de serviço e vão ser estes que irão ser entrevistados", explicou ao Diário Económico o secretário-geral da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, que diz ver com bons olhos esta nova medida da tutela de Nuno Crato.
Apesar de este ser um processo "mais transparente que vem travar o amiguismo", Dias da Silva alerta que "nem todas as escolas estão a cumprir com a lei". Segundo a FNE, há escolas "que estão a chamar centenas de professores e em muitos casos professores com pouco tempo de serviço."
 
Diário Económico

Novas metas para História, Geografia, Ciências Naturais, Físico-Química e Inglês

O ministro da Educação Nuno Crato anunciou esta tarde, no Parlamento, que serão elaboradas novas metas curriculares para várias disciplinas do ensino básico
História, Geografia, Ciências Naturais, Físico-Química e Inglês são as disciplinas escolhidas, depois de, em Agosto, terem sido conhecidas as versões finais das metas curriculares para Português, Matemática, Tecnologias da Informação e Comunicação, Educação Visual e Educação Tecnológica. Para estas disciplinas, as metas curriculares já entraram em vigor.

domingo, setembro 16, 2012

Professores e licenciados dominam novos inscritos nos centros de emprego


O número de inscritos nos centros de emprego continua a aumentar de mês para mês. Em agosto, o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) registou mais 18 mil inscritos (um aumento de 2,8%) que no mês anterior e mais 140 mil face a agosto do ano passado (acréscimo de 26,3%). De acordo com o relatório mensal do IEFP, divulgado no site na sexta-feira à noite, o número de licenciados inscritos nos centros de emprego chegou aos 83 497 em agosto, mais 54,5% que no mesmo período do ano passado.
Já professores registados nos centros de emprego, subiram para 14 132,ou seja, mais do dobro do registado em agosto do ano passado e mais 38,3% face a julho.

sexta-feira, setembro 14, 2012

"Vão-se foder"

"Vão-se foder.
Na adolescência usamos vernáculo porque é “fixe”. Depois deixamo-nos disso. Aos 32 sinto-me novamente no direito de usar vernáculo, quando realmente me apetece e neste momento apetece-me dizer: Vão-se foder!
Trabalho há 11 anos. Sempre por conta de outrém. Comecei numa micro empresa portuguesa e mudei-me para um gigante multinacional.
Acreditei, desde sempre, que fruto do meu trabalho, esforço, dedicação e também, quando necessário, resistência à frustração alcançaria os meus objectivos. E, pasme-se, foi verdade. Aos 32 anos trabalho na minha área de formação, feliz com o que faço e com um ordenado superior à média do que será o das pessoas da minha idade.
Por isso explico já, o que vou escrever tem pouco (mas tem alguma coisa) a ver comigo. Vivo bem, não sou rica. Os meus subsídios de férias e Natal servem exactamente para isso: para ir de férias e para comprar prendas de Natal. Janto fora, passo fins-de-semana com amigos, dou-me a pequenos luxos aqui e ali. Mas faço as minhas contas, controlo o meu orçamento, não faço tudo o que quero e sempre fui educada a poupar.
Vivo, com a satisfação de poder aproveitar o lado bom da vida fruto do meu trabalho e de um ordenado que batalhei para ter.
Sou uma pessoa de muitas convicções, às vezes até caio nalgumas antagónicas que nem eu sei resolver muito bem. Convivo com simpatia por IDEIAS que vão da esquerda à direita. Posso “bater palmas” ao do CDS, como posso estar no dia seguinte a fazer uma vénia a comunistas num tema diferente, mas como sou pouco dado a extremismos sempre fui votando ao centro. Mas de IDEIAS senhores, estamos todos fartos. O que nós queríamos mesmo era ACÇÕES, e sobre as acções que tenho visto só tenho uma coisa a dizer: vão-se foder. Todos. De uma ponta à outra.
Desde que este pequeno, mas maravilhoso país se descobriu de corda na garganta com dívidas para a vida nunca me insurgi. Ouvi, informei-me aqui e ali. Percebi. Nunca fui a uma manifestação. Levaram-me metade do subsídio de Natal e eu não me queixei. Perante amigos e família mais indignados fiz o papel de corno conformado: “tem que ser”, “todos temos que ajudar”, “vamos levar este país para a frente”. Cheguei a considerar que certas greves eram uma verdadeira afronta a um país que precisava era de suor e esforço. Sim, eu era assim antes de 6ª feira. Agora, hoje, só tenho uma coisa para vos dizer: Vão-se foder.
Matam-nos a esperança.
Onde é que estão os cortes na despesa? Porque é que o 1º Ministro nunca perdeu 30 minutos da sua vida, antes de um jogo de futebol, para nos vir explicar como é que anda a cortar nas gorduras do estado? O que é que vai fazer sobre funcionários de certas empresas que recebem subsídios diários por aparecerem no trabalho (vulgo subsídios de assiduidade)?… É permitido rir neste parte. Em quanto é que andou a cortar nos subsídios para fundações de carácter mais do que duvidoso, especialmente com a crise que atravessa o país? Quando é que páram de mamar grandes empresas à conta de PPP’s que até ao mais distraído do cidadão não passam despercebidas? Quando é que acaba com regalias insultosas para uma cambada de deputados, eleitos pelo povo crédulo, que vão sentar os seus reais rabos (quando lá aparecem) para vomitar demagogias em que já ninguém acredita?
Perdoem-me a chantagem emocional senhores ministros, assessores, secretários e demais personagem eleitos ou boys desta vida, mas os pneus dos vossos BMW’s davam para alimentar as crianças do nosso país (que ainda não é em África) que chegam hoje em dia à escola sem um pedaço de pão de bucho. Por isso, se o tempo é de crise, comecem a andar de opel corsa, porque eu que trabalho há 11 anos e acho que crédito é coisa de ricos, ainda não passei dessa fasquia.
E para terminar, um “par” de considerações sobre o vosso anúncio de 6ª feira.
Estou na dúvida se o fizeram por real lata ou por um desconhecimento profundo do país que governam.
Aumenta-me em mais de 60% a minha contribuição para a segurança social, não é? No meu caso isso equivale a subsídio e meio e não “a um subsído”. Esse dinheiro vai para onde que ninguém me explicou? Para a puta de uma reforma que eu nunca vou receber? Ou para pagar o salário dos administradores da CGD?
Baixam a TSU das empresas. Clap, clap, clap… Uma vénia!
Vocês, que sentam o já acima mencionado real rabo nesses gabinetes, sabem o que se passa no neste país? Mas acham que as empresas estão a crescer e desesperadas por dinheiro para criar postos de trabalho? A sério? Vão-se foder.
As pequenas empresas vão poder respirar com essa medida. E não despedir mais um ou dois.
As grandes, as dos milhões? Essas vão agarrar no relatório e contas pôr lá um proveito inesperado e distribuir mais dividendos aos accionistas. Ou no vosso mundo as empresas privadas são a Santa Casa da Misericórdia e vão já já a correr criar postos de trabalho só porque o Estado considera a actual taxa de desemprego um flagelo? Que o é.
A sério… Em que país vivem? Vão-se foder.
Mas querem o benefício da dúvida? Eu dou-vos:
1º Provem-me que os meus 7% vão para a minha reforma. Se quiserem até o guardo eu no meu PPR.
2º Criem quotas para novos postos de trabalho que as empresas vão criar com esta medida. E olhem, até vos dou esta ideia de graça: as empresas que não cumprirem tem que devolver os mais de 5% que vai poupar. Vai ser uma belo negócio para o Estado… Digo-vos eu que estou no mundo real de onde vocês parecem, infelizmente, tão longe.
Termino dizendo que me sinto pela primeira vez profundamente triste. Por isso vos digo que até a mim, resistente, realista, lutadora, compreensiva… Até a mim me mataram a esperança.
Talvez me vá embora. Talvez pondere com imensa pena e uma enorme dor no coração deixar para trás o país onde tanto gosto de viver, o trabalho que tanto gosto de fazer, a família que amo, os amigos que me acompanham, onde pensava brevemente ter filhos, mas olhem… Contas feitas, aqui neste t2 onde vivemos, levaram-nos o dinheiro de um infantário.
Talvez vá. E levo comigo os meus impostos e uma pena imensa por quem tem que cá ficar.
Por isso, do alto dos meus 32 anos digo: Vão-se foder"
 
https://www.facebook.com/angela.ftc

quarta-feira, setembro 12, 2012

Portugal lidera na desigualdade

"Cerca de 60% dos alunos cujos pais têm baixos níveis de instrução não conseguem concluir o ensino secundário em Portugal. E só menos de 20% chegam à universidade. Segundo o relatório da OCDE, ‘Education at Glance’, ontem divulgado, apenas a Turquia está pior, com quase 70%. Somos também, juntamente com os turcos, o país onde os filhos de pais com estudos superiores têm mais probabilidade de obter também nível de instrução elevado.
O relatório, que na maioria dos dados se reporta ao ano lectivo 2009/10, aponta os progressos de Portugal na Educação, mas refere que ainda há muito a fazer, uma vez que apenas metade das pessoas entre os 25 e os 34 anos conclui o ensino secundário. "Portugal investiu muito em dar mais tempo de estudo aos alunos. Mas o aumento do número de alunos por turma piora o nível da educação e Portugal foi o que mais cresceu", afirmou o director-adjunto da OCDE, Andreas Schleicher.
O relatório refere que Portugal reduziu o investimento em educação de 5,9% do PIB em 2009 para 3,8% em 2012, alertando para os riscos dessa opção".
CM

terça-feira, setembro 11, 2012

Carta aberta ao primeiro ministro - imprescindível leitura

"Exmo. Senhor Primeiro Ministro

Hesitei muito em dirigir-lhe estas palavras, que mais não dão do que uma pálida ideia da onda de indignação que varre o país, de norte a sul, e de leste a oeste. Além do mais, não é meu costume nem vocação escrever coisas de cariz político, mais me inclinando para o pelouro cultural. Mas há momentos em que, mesmo que não vamos nós ao encontro da política, vem ela, irresistivelmente, ao nosso encontro. E, então, não há que fugir-lhe.

Para ser inteiramente franco, escrevo-lhe, não tanto por acreditar que vá ter em V. Exa. qualquer efeito – todo o vosso comportamento, neste primeiro ano de governo, traindo, inescrupulosamente, todas as promessas feitas em campanha eleitoral, não convida à esperança numa reviravolta! – mas, antes, para ficar de bem com a minha consciência. Tenho 82 anos e pouco me restará de vida, o que significa que, a mim, já pouco mal poderá infligir V. Exa. e o algum que me inflija será sempre de curta duração. É aquilo a que costumo chamar “as vantagens do túmulo” ou, se preferir, a coragem que dá a proximidade do túmulo. Tanto o que me dê como o que me tire será sempre de curta duração. Não será, pois, de mim que falo, mesmo quando use, na frase, o “odioso eu”, a que aludia Pascal.

Mas tenho, como disse, 82 anos e, portanto, uma alongada e bem vivida experiência da velhice – da minha e da dos meus amigos e familiares. A velhice é um pouco – ou é muito – a experiência de uma contínua e ininterrupta perda de poderes. “Desistir é a derradeira tragédia”, disse um escritor pouco conhecido. Desistir é aquilo que vão fazendo, sem cessar, os que envelhecem. Desistir, palavra horrível. Estamos no verão, no momento em que escrevo isto, e acorrem-me as palavras tremendas de um grande poeta inglês do século XX (Eliot): “Um velho, num mês de secura”... A velhice, encarquilhando-se, no meio da desolação e da secura. É para isto que servem os poetas: para encontrarem, em poucas palavras, a medalha eficaz e definitiva para uma situação, uma visão, uma emoção ou uma ideia.

A velhice, Senhor Primeiro Ministro, é, com as dores que arrasta – as físicas, as emotivas e as morais – um período bem difícil de atravessar. Já alguém a definiu como o departamento dos doentes externos do Purgatório. E uma grande contista da Nova Zelândia, que dava pelo nome de Katherine Mansfield, com a afinada sensibilidade e sabedoria da vida, de que V. Exa. e o seu governo parecem ter défice, observou, num dos contos singulares do seu belíssimo livro intitulado The Garden Party: “O velho Sr. Neave achava-se demasiado velho para a primavera.” Ser velho é também isto: acharmos que a primavera já não é para nós, que não temos direito a ela, que estamos a mais, dentro dela... Já foi nossa, já, de certo modo, nos definiu. Hoje, não. Hoje, sentimos que já não interessamos, que, até, incomodamos. Todo o discurso político de V. Exas., os do governo, todas as vossas decisões apontam na mesma direcção: mandar-nos para o cimo da montanha, embrulhados em metade de uma velha manta, à espera de que o urso lendário (ou o frio) venha tomar conta de nós. Cortam-nos tudo, o conforto, o direito de nos sentirmos, não digo amados (seria muito), mas, de algum modo, utilizáveis: sempre temos umas pitadas de sabedoria caseira a propiciar aos mais estouvados e impulsivos da nova casta que nos assola. Mas não. Pessoas, como eu, estiveram, até depois dos 65 anos, sem gastar um tostão ao Estado, com a sua saúde ou com a falta dela. Sempre, no entanto, descontando uma fatia pesada do seu salário, para uma ADSE, que talvez nos fosse útil, num período de necessidade, que se foi desejando longínquo. Chegado, já sobre o tarde, o momento de alguma necessidade, tudo nos é retirado, sem uma atenção, pequena que fosse, ao contrato anteriormente firmado. É quando mais necessitamos, para lutar contra a doença, contra a dor e contra o isolamento gradativamente crescente, que nos constituímos em alvo favorito do tiroteio fiscal: subsídios (que não passavam de uma forma de disfarçar a incompetência salarial), comparticipações nos custos da saúde, actualizações salariais – tudo pela borda fora. Incluindo, também, esse papel embaraçoso que é a Constituição, particularmente odiada por estes novos fundibulários. O que é preciso é salvar os ricos, os bancos, que andaram a brincar à Dona Branca com o nosso dinheiro e as empresas de tubarões, que enriquecem sem arriscar um cabelo, em simbiose sinistra com um Estado que dá o que não é dele e paga o que diz não ter, para que eles enriqueçam mais, passando a fruir o que também não é deles, porque até é nosso.

Já alguém, aludindo à mesma falta de sensibilidade de que V. Exa. dá provas, em relação à velhice e aos seus poderes decrescentes e mal apoiados, sugeriu, com humor ferino, que se atirassem os velhos e os reformados para asilos desguarnecidos , situados, de preferência, em andares altos de prédios muito altos: de um 14º andar, explicava, a desolação que se comtempla até passa por paisagem. V. Exa. e os do seu governo exibem uma sensibilidade muito, mas mesmo muito, neste gosto. V. Exas. transformam a velhice num crime punível pela medida grande. As políticas radicais de V. Exa, e do seu robôtico Ministro das Finanças - sim, porque a Troika informou que as políticas são vossas e não deles... – têm levado a isto: a uma total anestesia das antenas sociais ou simplesmente humanas, que caracterizam aqueles grandes políticos e estadistas que a História não confina a míseras notas de pé de página.

Falei da velhice porque é o pelouro que, de momento, tenho mais à mão. Mas o sofrimento devastador, que o fundamentalismo ideológico de V. Exa. está desencadear pelo país fora, afecta muito mais do que a fatia dos velhos e reformados. Jovens sem emprego e sem futuro à vista, homens e mulheres de todas as idades e de todos os caminhos da vida – tudo é queimado no altar ideológico onde arde a chama de um dogma cego à fria realidade dos factos e dos resultados. Dizia Joan Ruddock não acreditar que radicalismo e bom senso fossem incompatíveis. V. Exa. e o seu governo provam que o são: não há forma de conviverem pacificamente. Nisto, estou muito de acordo com a sensatez do antigo ministro conservador inglês, Francis Pym, que teve a ousadia de avisar a Primeira Ministra Margaret Thatcher (uma expoente do extremismo neoliberal), nestes termos: “Extremismo e conservantismo são termos contraditórios”. Pym pagou, é claro, a factura: se a memória me não engana, foi o primeiro membro do primeiro governo de Thatcher a ser despedido, sem apelo nem agravo. A “conservadora” Margaret Thatcher – como o “conservador” Passos Coelho – quis misturar água com azeite, isto é, conservantismo e extremismo. Claro que não dá.

Alguém observava que os americanos ficavam muito admirados quando se sabiam odiados. É possível que, no governo e no partido a que V. Exa. preside, a maior parte dos seus constituintes não se aperceba bem (ou, apercebendo-se, não compreenda), de que lavra, no país, um grande incêndio de ressentimento e ódio. Darei a V. Exa. – e com isto termino – uma pista para um bom entendimento do que se está a passar. Atribuíram-se ao Papa Gregório VII estas palavras: ”Eu amei a justiça e odiei a iniquidade: por isso, morro no exílio.” Uma grande parte da população portuguesa, hoje, sente-se exilada no seu próprio país, pelo delito de pedir mais justiça e mais equidade. Tanto uma como outra se fazem, cada dia, mais invisíveis. Há nisto, é claro, um perigo.


De V. Exa., atentamente,
Eugénio Lisboa
 
http://arrastao.org/2621727.html
 
 

domingo, setembro 09, 2012

Proponho que nesta entrevista ao Nuno Crato seja utilizado um detetor de mentiras



Por cada mentira dita um bip bem sonoro. Acho que o ministro não conseguiria dizer uma frase sem bip´s. E faço votos que não seja uma entrevista com paninhos quentes, nem com perguntas previamente combinadas. Ele que faça conta que está no "Plano Inclinado". É que nessa altura o seu discurso fazia sentido.

Resultados de acesso ao ensino superior

A consultar aqui.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Olha o representante dos pais a desculpabilizar os meninos



Ou muito me engano ou este novo Estatuto do Aluno vai ser mais do mesmo. Cá estarei para ver o absentismo e a indisciplina a serem penalizados. Reforço da autoridade dos professores? Deixem-me rir.  

Detesto ministros que tentam influenciar a opinião pública com um chorrilho de mentiras

"O ministro da Educação, Nuno Crato, disse em entrevista ao jornal Sol que a redução do número de professores contratados para o presente ano letivo é «inevitável».
Nuno Crato reconhece que muitos candidatos a professores não foram colocados em escolas, mesmo os que já davam aulas, mas lembra que há ainda 1714 horários por preencher.
O ministro compreende que a situação é «humanamente preocupante» e afirma que o que se está a passar «é o resultado de várias coisas», como «a redução da população escolar, em cerca de 200 mil alunos nos últimos anos (cerca de 14 por cento)".
A Bola

terça-feira, setembro 04, 2012

Ministério compromete-se com vinculação extraordinária até ao fim de 2012

"O Ministério da Educação e Ciência (MEC) comprometeu-se com a vinculação extraordinária de professores contratados, processo que estará concluído até ao final de 2012, adiantou hoje a Federação Nacional de Educação (FNE).
A decisão saiu da reunião de hoje entre o MEC e a plataforma sindical e que tinha como objectivo analisar os resultados do concurso de professores e o processo extraordinário de vinculação.
No final do encontro, em declarações aos jornalistas, o secretário-geral da FNE, João Dias da Silva, adiantou que obteve da tutela a confirmação de que vai haver uma vinculação extraordinária de docentes que estavam, até agora, como contratados, e que essa vinculação irá respeitar as posições de carreira dos professores que já pertencem aos quadros".

Público







domingo, setembro 02, 2012

A angústia dos professores

"É já uma banalidade: milhares e milhares de professores vivem em profunda angústia no período de verão. O seu futuro depende dos resultados do concurso nacional de colocação e o cenário de desemprego provoca-lhes insónias. Como que está institucionalizado um ritual de aflições tendencialmente agravado.
Este ano, para além de apenas terem sido contratados 7600 dos 51 209 docentes candidatos - menos 5147 do que no ano passado - há também 1872 professores do quadro sujeitos ao chamado horário-zero, uma fórmula castradora das suas vivências profissionais.
Um cenário assim, triste mas factual, tem naturalmente várias razões a ditá-lo.
Elemento influente e indesmentível: embora o Ensino se tenha massificado - e não só pela via da obrigatoriedade até ao 12.0 ano - Portugal dispõe de uma taxa de natalidade cada vez mais baixa. Logo, há menos meninos e meninas a caminho das escolas. Um elemento de todo preocupante para a globalidade do futuro de um país envelhecido e em contraponto à contínua saída para o mercado de trabalho de mais e mais professores habilitados pelas Escolas Superiores de Ensino.
A um raciocínio assim, básico mas indesmentível, juntam-se entretanto elementos instrumentais da política educativa agravantes da dispensa de um número elevadíssimo de professores. Não apenas ditado pelo menor número de alunos, o fecho de escolas e a constituição dos chamados mega-agrupamentos contribui, igualmente, para o aumento de professores excedentários. E a tornar o sistema menos necessitado de professores contribuem ainda, por um lado, as modificações curriculares - os métodos aplicados às novas disciplinas de Educação Visual e de Educação Tecnológica provocam uma razia nas necessidades - e, por outro lado, o aumento do número de alunos por turmas.
Há muito que se diagnosticavam dificuldades para o mercado de trabalho dos professores. E o engrossar das fileiras de desempregados agrava-se na sequência nefasta de novas políticas.
As ondas telúricas provocadas pelos resultados do concurso nacional de colocação acabam, enfim, por não ser propriamente novas. Embora mantenham dados inquinados de discussão.
Dois exemplos. A constituição dos mega-agrupamentos e o aumento do número de alunos por turma são, por norma, defendidos por quem os introduziu como valores seguros de eficácia e melhoria pedagógica. O contrário do que é cientificamente comprovado; toda uma base de argumentação engenhosa, encobrindo o essencial das alterações: redução drástica, por imperiosa necessidade de sobrevivência das contas públicas, dos custos do Ensino inscritos no Orçamento do Estado.
Uma verdade nua e crua vale bem mais do que uma mentira bem embrulhada".
 
Fernando Santos
JN