sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Mais uma voz contra a ministra

"Escreve hoje Manuel Carvalho no Editorial do Público: «ainda que concedamos que a ministra [da Educação] não teve sentido táctico, que se perdeu no labirinto dos papéis que infernizaram a vida nas escolas, que errou no processo dos professores titulares ou que abusou da sua pose de autoridade quando tinha o dever de negociar, de um facto há poucas dúvidas: a maioria das reformas que propunha apontava para o caminho certo.»
Parece-me que a questão que merece reflexão é precisamente a inversa: ainda que concedamos que muitas das reformas que propunha (e.g., avaliação de professores, associação entre progressão na carreira e desempenho, estabilização do quadro docente) apontavam para o caminho certo, a multiplicação de leis e despachos (muitas vezes inconsistentes entre si), a falta de credibilidade do processo dos professores titulares (que veio pôr em causa os princípios de avaliação que se apregoavam), o autoritarismo e a incapacidade de negociar (classificando todo e qualquer sinal de descontentamento como atitudes reaccionárias e corporativas), a diabolização dos professores desde o primeiro momento, inviabilizaram o sucesso das mudanças que se propunham.
Como afirma Manuel Carvalho de forma cristalina, «o alcance reformista do seu programa estará sempre condenado à contestação. Sem o apoio da maioria dos professores, pouco mais é que um manifesto.»
Pela enésima vez houve quem se convencesse que se governa por decreto, ignorando a importância da mobilização dos agentes centrais da mudança. Grande parte dos professores sempre aceitou os princípios da avaliação e da relação entre desempenho e progressão na carreira. Mas optou-se pelo populismo, por atacar a classe docente como um todo (talvez seja a isto que tem em mente Manuel Carvalho quando fala em falta de 'sentido táctico'). Agora paga-se o preço. Seria bom que se aprendesse com esta experiência. Bom demais, desconfio".

Ricardo Paes Mamede

Num outro palco, Ana Benavente volta à carga

http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=329673&headline=98&visual=25&tema=27

Uma das coveiras do ensino em Portugal quer a substituição da ministra

Avaliação: formar ou punir os professores?

"Como pode um governo do país que tem um dos sistemas de ensino mais deficiente e injusto, campeão dos repetentes e excluídos, tentar transferir a responsabilidade deste pesado défice social para cima dos seus empregados, os professores, acusando-os de serem eles os responsáveis pelas políticas que conduziram a esta situação?
Como é possível pretender que se recupere o atraso nesta área social decisiva para o presente e o futuro começando precisamente por atacar os profissionais?

Se for por diante o novo sistema de avaliação, a grande maioria dos professores verá reduzido em cerca de um terço o tecto salarial que pode atingir ao longo de toda uma carreira de quarenta anos de trabalho. Dois em cada três professores ficarão nessa situação, porque só um terá hipótese de chegar à categoria de professor titular, sujeita a "numerus clausus". Os outros serão professores de segunda categoria, administrativamente considerados como maus professores, ou pelo menos deficientes.

Logo para entrar na carreira, os jovens professores saídos das faculdades serão sujeitos a um exame "probatório", em que os conhecimentos aprendidos nas universidades serão de novo postos à prova, lançando assim uma insuportável suspeita sobre o esforço, os custos e o sucesso conseguido numa licenciatura inteira e dezenas de cadeiras feitas. Por isso, é justa a crítica dos sindicatos, quando dizem que se o ministério desconfia da qualidade das licenciaturas, é sobre as escolas de ensino superior que deveria actuar. Do que se trata, neste caso, é de aliviar as estatísticas do desemprego docente, eliminando à partida uma larga percentagem de pessoas que fizeram cursos para a docência.

O novo sistema de avaliação pretende pura e simplesmente dividir em duas categorias os que já estão na carreira, hierarquizar, criar a concorrência em vez da cooperação, e simultaneamente controlar e "punir". Isto é, fazê-los pagar pela incapacidade e incompetência de todo um sistema de carências, pobreza e exclusão social, que o sistema económico e o poder político produziram e intensificam, de um sistema de ensino cheio de falhas e atrasos imputáveis aos sucessivos governos e ministros da educação.

A avaliação punitiva, que enforma o modelo que a ministra quer impor, é socialmente inaceitável. Não é possível admitir que uma grande parte dos alunos do sistema de ensino seja sujeita ao trabalho de profissionais considerados "maus" ou de segunda e terceira categoria. Imaginem o que seria estender este "dogma" (de que é fatal haver maus e bons profissionais) a outros sectores, por exemplo os pilotos de aviões? Pilotos maus profissionais? Para transportar quais passageiros? Do mesmo modo: professores "maus" para crianças, adolescentes e jovens? A ministra afirma que se pretende "reconhecer o mérito e a excelência", "diferenciar e premiar os melhores". Premiar? Ou antes castigar salarial e estatutariamente dois terços dos profissionais, com quotas decretadas arbitrariamente para o grau de titulares? Como é possível decretar quotas de "muito bons" e "excelentes" professores, mediante despacho governamental anual?

A avaliação de que precisamos como de pão para a boca é, antes, a avaliação formativa: avaliar para melhorar o trabalho, para compreender os pontos fortes e fracos, para potenciar o trabalho em equipa, para poder corrigir falhas, para acompanhar a evolução dos tempos.

Convém que se saiba como o ministério trata o assunto da formação: os professores serão obrigados a frequentar acções de formação profissional todos os anos até à reforma. E como serão garantidos cursos de formação para 150.000 professores, anualmente? Os custos dessas tenderão a ser suportados pelos profissionais. Decorrerão em horário pós-laboral. Muitos estão já a acorrer às escassas ofertas de formação, muitas vezes a dezenas de quilómetros da sua residência. Tudo saído do seu bolso e do seu tempo de lazer.

Como observa José Ribeiro (Jornal de Letras, 13/2/2008), o governo e o seu sistema de avaliação roça o desumano: em vez do apoio profissional e pessoal que é tão necessário e urgente, ameaça-se com a porta da rua, agravando o stress nestes profissionais que são já campeões das consultas de psiquiatria.

Como refere Sérgio Niza no mesmo jornal, o novo sistema de avaliação constitui "um programa de vigilância e controle em vez de valorizar os professores e proporcionar estímulos para o seu aperfeiçoamento".

Por este andar, o atraso do sistema de ensino básico e secundário português, que nos envergonha e que ficou refém de alguns preconceitos salazarentos, corre o sério risco de se prolongar por este novo século adentro.

A população escolar é constituída pelos alunos e pela "tripulação" - os professores. Estamos no mesmo barco. Só juntos e com respeito pela nossa dignidade poderemos chegar a bom porto. Esta tentativa de virar uns contra os outros, num momento de grave crise, é o pior que se poderia fazer".

Jaime Pinho

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A situação de revolta nas escolas

"No caso do ministro da Saúde, a contestação era maior na rua do que no interior do "sistema"; no caso da ministra da Educação é o contrário. A situação nos dois ministérios "reformistas" do governo Sócrates tinha por isso uma diferença fundamental e levou ao despedimento do ministro da Saúde e à manutenção da ministra da Educação. No entanto, com a deterioração acelerada da situação no interior das escolas, já estive mais seguro de que ninguém tocaria na ministra do que estou hoje.
Não é que o ministério da Educação não tenha simpatias do seu lado, e poderosas: muitas pessoas estão com a ministra, pais, autarcas, "povo", porque se revoltavam com a situação das escolas, por muitas e diferentes razões, mas unidas num único alvo, os professores. Os professores no seu conjunto eram tidos como os grandes responsáveis pelo que se passava nas escolas e embora houvesse outros alvos, o ministério, o laxismo, o "eduquês", os sindicatos, acabava sempre por sobrar para os professores. Os professores tinham uma óbvia responsabilidade por esta situação e tinham-se posto a jeito. Embora houvesse professores que individualmente expressassem o seu descontentamento com o "eduquês", o facilitismo, a falta de hierarquia de mérito entre os próprios professores, o absentismo, o desleixo e a má preparação de muitos profissionais, a ausência de avaliação digna desse nome, a sindicalização do ministério, não havia um sólido movimento de opinião entre os professores que exigisse reformas e isso permitiu a demonização dos professores enquanto classe profissional. Mas havia professores com estas preocupações e estes deveriam ser os aliados naturais de uma política de reformas como a que a ministra quis fazer. Só que não há, não há ninguém, é difícil encontrar alguém, em qualquer escola do país, que apoie a ministra, que é universalmente odiada pelos professores. Uso a palavra forte, "odiar", porque é raro encontrar algum responsável ministerial mais sózinho que a ministra da Educação e isso, por si só, mostra que alguma coisa falhou nas suas reformas, porque, por escassos que fossem, alguns aliados deveriam existir, 10%, 5% dos professores, 3 ou 2% para se conseguir ter sucesso.
Onde estão os erros? Um, de primeira responsabilidade de Sócrates, foi fazer reformas "contra", usar, para obter apoio popular fácil, o mecanismo de pôr juízes contra professores, professores contra médicos, pais contra os professores, cada classe ou grupo contra os "privilégios" dos outros, e o "povo" contra todos. É bom para as sondagens, é péssimo para fazer reformas. Esta linguagem agressiva das reformas "contra" os grupos profissionais também penetrou no ministério e, feito o mal, a seguir não é possível controlar os estragos. Depois, o ministério, que é uma burocracia que se comporta como burocracia, quis fazer tudo ao mesmo tempo, dispersou-se e desconcentrou-se, misturou coisas importantes com irrelevâncias, atirou para todo o lado, e, sem dar espaço às escolas e aos professores para se adaptarem a uma nova ecologia, logo surgia outra alteração e outra e outra. Muita coisa foi feita de forma incompetente, gerando injustiças flagrantes em processos muito delicados, criando divisões e hostilidade entre professores, despromovendo carreiras profissionais altamente qualificadas a favor de critérios apenas centrados no dar aulas, actuando de uma forma sentida como punitiva contra os professores. O ministério alienou os apoios dos melhores e mais dedicados professores e não conquistou o apoio de nenhuns outros.
A ministra bem pode mandar, como Jeová, os Anjos a Sodoma e Gomorra à procura de um justo, que não encontra ninguém. Pode-se dizer que isto acontece porque são mesmo verdadeiras reformas e atibgem o cerne do corporativismo dos professores, o que é em parte verdade, mas escapa à questão de fundo: muitas reformas foram mal conduzidas, mesmo quando tinham mérito de per si e o resultado pode apenas ser mais caos e esvanecer-se junto com a ministra.
Aanela de oportunidade está quase fechada, o tempo é escassíssimo, mas só uma pessoa pode ainda tentar salvar o que se pode salvar: a ministra da Educação. Não é "ceder" que se lhe pede, é que distinga o que é essencial do que é secundário e se concentre, concentre, concentre, no que é essencial e deite o resto pela borda fora. Já".

Pacheco Pereira
Sábado

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Até parece que vivemos em países diferentes!

"O Estatuto da Carreira Docente da Madeira entra hoje em vigor, com claras diferenças em relação ao Estatuto em vigor no Continente, devido ao carácter específico da autonomia das Regiões autónomas.
O decreto legislativo regional, ontem publicado em Diário da República, apenas se aplica aos docentes que dão aulas na Madeira.
De acordo com o Estatuto, não é exigida uma prova de avaliação de conhecimentos e competências para o ingresso na carreira, não há hierarquização da carreira em duas categorias (professor e professor titular) e não há quotas no escalão máximo (oitavo) da carreira docente (no Continente, foi estabelecido um limite de Professores Titulares por escola).
O Estatuto dos Professores da Madeira estipula que o ingresso na carreira faz-se por concurso, quando no Continente é obrigatória a realização de uma prova de avaliação".

Correio da Manhã

terça-feira, fevereiro 26, 2008

A "credibilidade" do Programa Novas Oportunidades

A referência vem daqui. Importante ouvir para se ter a verdadeira noção do que é o Programa Novas Oportunidades. Ouçam aqui.

Balanço dos "Prós e Contras" de ontem à noite

Num debate desigual, sózinha frente aos professores, a ministra acabou por reforçar a sua imagem aos olhos da opinião pública. Por uma vez, chegou a estar encostada às cordas, mas aí Fátima Campos Ferreira deu-lhe a mão, o que lhe permitiu recuperar a postura.
Os professores bem como os sindicatos estiveram num plano razoável, com especial destaque para a colega Fernanda Velez, mas o pouco tempo disponível e a complexidade das matérias em discussão obstam a que a mensagem para o exterior seja devidamente transmitida.
Na ressaca deste debate, fica uma sensação de frustração que é usual nestes confrontos televisivos. Cada vez mais penso que esta guerra contra as políticas educativas deste governo terá de ser ganha na rua. Será aí que nós temos de fazer valer a nossa força. Doutra forma não vamos lá.

sábado, fevereiro 23, 2008

E a avaliação dos professores, para quê?!

"Onde fica a Europa de Sócrates? Qual é a substância da bazófia de Sócrates sobre o atraso nacional da avaliação de professores e do êxtase perante a modernidade europeia? A Europa onde os resultados dos alunos não servem directamente para avaliar os professores?
A Europa onde a avaliação dos professores cabe no quadro da avaliação global do sistema, dos políticos e das políticas, dos recursos e das administrações, das escolas e dos professores? Ou a Europa da multiplicidade de modelos e entidades envolvidas (inspectores, comités especiais de representação externa ou mista, conselhos de administração de centros educativos, sindicatos, consoante os países)?
Não. A Europa de Sócrates é a das coutadas. Centrada no umbigo das escolas, a avaliação de desempenho serve, por cá, para avaliar directamente os professores. Serve para avaliar uma das partes do sistema e para descartar de governantes e políticas a imensa responsabilidade pelos problemas do sistema de ensino.
E onde está o rigor de Sócrates, que o faz espumar na defesa das damas, avaliação e ministra?
Quaisquer análises formais sobre o modelo de avaliação de desempenho deixaram de ter seriedade a partir do concurso que fraccionou a carreira em duas, e pela mais simples das razões: os avaliadores não o são por serem melhores, nem mais qualificados, nem por terem mais habilitações académicas, nem melhores classificações profissionais, do que os seus avaliados. Podiam não ser melhores mas, ao menos, podia o ME apostar na sua formação. (feita a porcaria, vamos lá formar esta malta para avaliar os seus pares). Mas isto é assunto tabu.
Sendo a divisão artificial da carreira em duas a perversão de origem do sistema, ela é também a razão da profunda angústia de avaliadores e avaliados, quando gente séria. Porque há de tudo, e escolas com fichas prontinhas a consumir.
Não havendo exterioridade no sistema (excepto para os coordenadores de departamento), nem validação dos que avaliam, a coisa não passará de umas fichas e de um monte de rotinas burocráticas, feitas entre pares, e cujas amizades ou inimizades se traduzirão nos resultados finais.
E para onde vai o insucesso? Que é a questão que mais importa.
Os resultados escolares são, na maioria dos países europeus, indicadores de avaliação do sistema e não dos professores. Mas para o governo de Sócrates são elementos de avaliação directa de professores e o insucesso tornou-se higienicamente ameaçador. Quantos e quantas não começaram o ano com atmosferas criadas por conselhos executivos, que já se esqueceram que foram eleitos, a cultivar o medo do insucesso, a ameaça das consequências para a carreira?
Imagine-se, no entanto, que o ME entenda que a educação se reduz a produtos e que as classificações sejam os "produtos". Mesmo assim, nem ao diabo lembra que os professores sejam individualmente responsabilizados por realidades que os ultrapassam mas que o resultado final do seu trabalho esteja dependente da avaliação de realidades que também os ultrapassam.
Exemplos do insólito: como é que a avaliação individual de um professor ou professora pode estar refém do abandono escolar? Onde é que está inequivocamente salvaguardada a avaliação de resultados em contexto? Que culpa é que os professores de Biologia ou de História, por exemplo, têm que os exames nacionais tenham critérios tortuosos, arrastando altíssimas taxas de insucesso nas disciplinas? E para quê fazer registos da evolução, aluno a aluno, quando as quotas da excelência são determinadas pelo Ministério e pela avaliação externa das escolas?
As quotas, essa coisa de que ninguém poderá reclamar, serão determinadas pela avaliação externa das escolas e pelo ME. Ora, não só no quadro actual é muito difícil que a avaliação externa das escolas esteja pronta em 2009, como o funil já não precisa da qualidade dos avaliados para nada. E que culpa tem o desgraçado, que já foi responsabilizado pelo abandono escolar, pelo insucesso, por ter muitas turmas, por trabalhar em contextos desfavorecidos, pelo atraso da pátria e pela acidez da Ministra, que não haja uma quotazinha para o seu excelente desempenho?
A avaliação do sistema, incluindo professores, é coisa séria e devia ser rigorosa, transparente e exigente. Mas nada disto é sério. E tudo isto é apenas o que é: o triunfo da subjectividade, porque o que o professor escolhe, ao classificar, é o seu insucesso ou o seu sucesso; marginal às condições objectivas que urge mudar (programas, carga horária, formação de professores, condições nas escolas); guilhotina para a poupança de dinheiro e, sobretudo, a peça que faz falta no dominó de dependências e hierarquias em que o Estado pode fazer cada vez menos, porque fica com a cadeia de sargentos mais oleada".

Cecília Honório
http://www.esquerda.net

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Rigor???

"Bristol. Inglaterra, cidade de médias dimensões, chuva, uma escola cheia de miúdos, cerca de mil, e quatro escolas estrangeiras de visita: Espanha, Portugal, Noruega e Lituânia. Seria mais uma experiência profissional, uma das muitas que já integrei, e não mereceria lugar no jornal se não tivesse vivido momentos que me fazem pensar para além do profissional.
Fiquei impressionada com o rigor, com a formalidade, da escola que visitei. Os alunos, miúdos entre os dez e os dezassete anos, usam uniforme, cumprem horário - não há campainha -, são castigados e premiados, cumprem regras e são educados para o reconhecimento da autoridade e o respeito pela hierarquia. aqueles miúdos não precisam de toques estridentes de campainha para saberem que devem dirigir-se para as aulas, não arrumam os seus materiais em algazarra, ao som irritante da dita cuja. Desde pequenos aprendem a regular-se pelos seus relógios e, para eles, é normal e correcto que assim seja. Estes miúdos e professores têm aulas apenas de 60 minutos, entram às 8h3om e saem sempre às 14h40m. Estes alunos e professores têm tempo para viver para além da escola: para ler, brincar, estudar, conviver, fazer desporto, etc. No entanto, estes miúdos não têm mais insucesso que os portugueses e, pelo contrário, de forma geral, mostram muito maior domínio das competências básicas! Então, parece-me, está provado que o sistema português, que abusa do tempo passado na sala de aula e minimiza o rigor, está completamente errado! Um professor inglês, surpreso face ao tempo que os nossos alunos passam na escola e face à duração das aulas, mostrou-se um artigo científico onde se prova que, para além dos 60 minutos, a capacidade de concentração e trabalho de qualquer criança e/ ou jovem é nula!! Perante esta situação, eu, que há muito desconfio do sistema português, fiquei angustiada. será que a equipa ministeria, as várias desde há muitos anos, não conhecem outras realidades, não fazem estudos, não comparam metodologias e sucessos, não lêem revistas científicas, não estudam as mais recentes filosofias e psicologias da aprendizagem?!! E, para além disso, como pode a UE, a tal União de proximidades, de objectivos comuns, aceitar regras tão profundamente diferentes entre os diferentes estados-membros? Porque dos cinco países presentes Portugal é o único com aulas de 90 minutos (e 135! BARBARIDADE!), o único em que os alunos passam tantas horas na escola, o único em que ainda vigora a treta educativa de que somos todos iguais e temos todos os mesmos direitos! Em Inglaterra, os miúdos crescem aprendendo e compreendendo que o Professor é detentor de sabedoria, de poder conferido por um estatuto profissional, que deve ser respeitado e obedecido. Os mais pequenos, miúdos de onze anos, com o seu uniforme de calças pretas e azul-turquesa, respeitam até o seu delegado de turma que, para se distinguir do todo da turma, usa...gravata! Quando me contaram, sorri. Achei que era mais uma loucura exagerada dos ingleses. Mas, agora, vivi a experiência, observei os miúdos e, sinceramente, lamentei a triste realidade do meu país...
Um país sem regras, um lugar onde vale tudo, um espaço onde os limites são confusos, não pode funcionar! Mais uma vez, como já outras vezes me aconteceu, dei comigo a pensar o que é que, de facto e com efeitos visíveis, foi feito, em termos de educação cívica e cultural, desde 1974 até hoje. A resposta, para não ser pessimista e porque acabei de chegar cheia de esperanças, é que quase nada. Porque não se pode educar sem regras, sem impor limites, sem definir hierarquias e sem fomentar a autonomia!
Bom, eu não queria viver nada em Inglaterra. Não gosto da chuva contínua, dos edifícios tristes nem da língua grosseira. Mas invejo o modelo educativo que eles praticam! Invejo um povo que não tem medo de dizer que é diferente ser-se professor ou aluno, que não receia ser apelidado de fascista, apenas por estabelecer e fazer cumprir regras. esta gente, os ingleses de hoje, descendem de quem viveu a guerra e reconstruiu um país. Será que a nós nos falta, ainda, a experiência da guerra? Terror, já nós conhecemos..."

Maria Luísa Moreira
Professora

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

A "marcha da indignação"

Esta manifestação convocada pela Fenprof pode constituir-se num pau de dois bicos para os professores. No caso de haver uma participação massiva poderemos, efectivamente, vir a colher dividendos no curto/médio prazo, mas se esta for reduzida o ME não deixará de fazer o aproveitamento devido, vindo para a praça pública dizer que, afinal, a maioria dos professores até está a favor das políticas educativas do Governo.
A Fenprof com receio de perder a sua influência junto dos docentes – começam a ser visíveis alguns grupos de professores actuando ao arrepio dos sindicatos -, vê-se na necessidade de agir e, por isso, promove uma manifestação, com o claro objectivo de capitalizar a crescente indignação que hoje em dia se vive nas escolas. Percebe-se a intenção, mas não deixa de ser uma cartada muito alta que a correr mal pode estoirar nas mãos dos professores. E isso é tudo o que menos nos interessa neste momento.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Palmadinhas nas costas

"Como suspeitava e ontem me confirmou quem lá esteve, a reunião do Secretário geral do PS com professores militantes do PS foi puro marketing partidário. É certo que foram anunciadas algumas pequenas concessões em duas ou três coisas de somenos, mas o essencial foi permitir a catarse dos que sendo socialistas e professores se sentem no meio de tenazes ameaçadoras, para a equipa do ME mostrar aos "camaradas" que devem estar orgulhosos da obra feita e para o Primeiro Ministro lhes dar umas revigorantes palmadinhas nas costas preparando o terreno para as próximas batalhas partidárias.
No essencial deve assinalar-se que os professores militantes do PS não têm qualquer intervenção na formulação das políticas educativas e sofrem-nas na pele como todos os outros. Reside aqui o cerne do problema. Em democracia era suposto que houvesse participação alargada na formulação das políticas e era suposto que um partido que governa ouvisse as suas bases e não se limitasse a "falar" para elas. É por isto que se chegou onde sabemos, por défice de participação e excesso de arrogância".

José Manuel Silva, ex-Director Regional de Educação
http://www.campolavrado.blogspot.com

domingo, fevereiro 17, 2008

Grande Entrevista de Sócrates ao 4R!...

"4R: A política de educação é para continuar?
Sócrates: O Governo não desiste de levar para a frente a sua política de educação. É ponto assente.
4R: Que política?
Sócrates: Reprovar todos os professores e fazer passar todos os alunos!...
4R: Simplex, Senhor 1º Ministro!..."

JPP "comenta" carta de professora de Barcelos

"A carta que Fátima Inácio Gomes, professora de Português do quadro da Escola Secundária de Barcelos, Coordenadora do Departamento de Línguas (de acordo com o decreto 200/2007), e aqui a especificação conta para a matéria, me enviou a mim e a mais uma série de pessoas com acesso ao debate público nos meios de comunicação, é uma iniciativa que não deve ficar sem resposta.
A carta é muito extensa e pouco comunicacional, no sentido em que para explicar o seu ponto de vista sobre a avaliação dos professores tem que elaborar e detalhar e isso hoje não cabe no espaço cada vez mais curto e rápido da comunicação. mal da comunicação, mérito da carta, que dá atenção à argumentação a favor dos seus pontos de vista com rigor. Por isso, não podendo reproduzi-la aqui, ela pode ser lida em vários locais da Internet, incluindo os de escolas como o da Escola Secundária da Tábua (http://www.esec-tabua.rcts.pt/).
O assunto é impopular nos dias de hoje e suscita de imediato uma reacção negativa, a avaliação dos professores. Eu próprio tendo muitas vezes a ser pavloviano nesta matéria, demasiado inquinada pelo corporativismo profissional dos professores que pagam o preço de terem sido muito tempo indiferentes à degradação da sua profissão, e da política entre errática e facilitista de um ministério demasiado dominado por uma coligação entre a sua burocracia e os sindicatos, entre os seus políticos e o "eduquês". Não é só uma única coisa, como muitas vezes dizem os professores que se vitimizam apontando para um ministério desgraçado que lhes coube em sorte. São duas, os professores também têm muitas responsabilidades pelo estado de coisas. por isso um professor a queixar-se da avaliação dos professores gera logo a salivação de Pavlov, reconheça-se.
mas a professora de Barcelos, que é muito dura com o ministério actual, dános um pouco do que é hoje o ambiente de hostilidade, por boas e más razões, para com a ministra. Mostra-nos o emaranhado burocrático irrealista da avaliação pretendida, o caos de decisões e contradecisões, e seus efeitos perversos. Fica aqui apenas um exemplo (...)" (segue-se um extracto da carta da dita professor).

Da leitura da crónica de Pacheco Pereira ressalta o seguinte:
- praticamente não emitiu opinião, limitando-se a transcrever uma parte da carta;
- considera a classe docente uma das grandes responsáveis pelo actual estado do ensino em Portugal, graças à sua passividade e indiferença relativamente aos problemas do sector;
- considera também que esta contestação à avaliação cheira a esturro, pois fica a ideia de que mais do que o desacordo face à forma como ela está a ser implementada, o que os professores na realidade não querem é ser avaliados.

Ou seja, estamos perante mais um destacado analista que dá pouco crédito à nossa luta e se está a borrifar para ela. É só mais um a acrescentar a outros tantos. A verdade é que continuamos sem conseguir que a opinião pública entenda os nossos pontos de vista. E enquanto assim for, estamos tramados!

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Bom Povo Português

Desabafos (II)

Senhores passageiros, queiram apertar os cintos, vamos iniciar a nossa viagem ao mundo maravilhoso da palhaçada. Entrámos oficialmente no reino da treta, onde tudo é possível e o absurdo nunca é demais. Com a preciosa ajuda de centena e meia de milhares de professores, dispostos a alinhar em todas as pretensões do Ministério da Educação, mesmo que as regras se tornem demasiado idiotas e a situação nas escolas se torne incomportável, estamos a assistir a uma inversão completa do rumo do ensino com consequências desastrosas para o país como se comprovará dentro de poucos anos quando se conhecerem os resultados desta engenhosa política educativa. Quem vai pagar toda esta irresponsabilidade? Todos, menos os verdadeiros responsáveis que, nessa altura, estarão a gozar uma reforma dourada numa qualquer empresa pública ou privada comparticipada pelo Estado. Como todos sabemos a incompetência política sempre foi paga com altos tachos e, nesse particular, o "trio maravilha" não recebe lições de ninguém pelo que a recompensa estará certamente garantida.
O tempo vai passando, a bandalheira instalou-se definitivamente no nosso sistema de ensino, mas os professores continuam a não exercer condignamente o seu direito à indignação. O que é preciso o ME fazer mais para que nos revoltemos, nos indignemos, nos unamos para dar a esta equipa ministerial a resposta que desde há muito vem merecendo?

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Desabafos

" (...)Por isso, fiquei muito surpreendida quando, esta manhã, acordei com uma vontade intensa de procurar o endereço do meu blog ( até me esqueço dele!) e desabafar.
Desabafar porque a tristeza que tem tomado conta de mim, nos últimos tempos, já não se contenta em ser verbalizada com alguns colegas de trabalho (poucos!) que, infelizmente, vão partilhando estes sentimentos de desalento e angústia.
Desabafar porque estou a sentir-me inútil, enxovalhada, descartável e uma peça partida de um jogo de xadrez qualquer, jogado por aprendizes dessa arte ancestral e que requer tanto inteligência como habilidade. Ou será que se tratam antes de foliões que, num pub rasca qualquer, vão atirando dardos a um alvo para passarem o tempo?
Desabafar porque, quando me perguntam qual é a minha profissão, eu já não sei se devo responder orgulhosamente "Sou professora!" ou, em vez disso, "Faço parte de uma companhia circense e, conforme o dia, vou sendo a mulher-palhaço, contorcionista, malabarista, domadora de feras...Olhem! Acumulo funções!"
Aproximam-se a passos largos os meus quarenta e três anos. Desde os seis que estou ligada ao ensino. Nunca cheguei a sair da escola. Fui aluna e depois professora. Comecei a leccionar ainda como estudante universitária e esta profissão faz parte de mim como a minha pele.
No entanto, hoje sinto-me como uma cobra: com uma urgente necessidade de a mudar e arranjar uma nova.
Pela primeira vez, questiono a sabedoria da escolha que fiz relativamente à minha profissão. Escolha consciente, diga-se em abono da verdade...a culpa foi toda minha, ninguém me obrigou e pessoas avisadas bem me alertaram.
Mas, também existiam outras que pensavam de forma diferente.
Relembro nomes de antigos professores... daqueles que, por si só, já eram uma aula e não precisavam de recorrer a metodologias e estratégias inovadoras (já agora...se alguém souber de alguma que ainda não tenha sido tentada, não seja egoísta e partilhe-a comigo...eu já não consigo inventar mais!).
Recordo como esses professores me incentivaram a seguir esta carreira-"Foste feita para ensinar, miúda! Vai em frente!"- e como um deles, quando o encontrei já bem velhote, comentou com um sorriso "Eu bem sabia! Sempre lá esteve o bichinho!"
Que diriam, todos os meus professores que já partiram, sobre tanto decreto regulamentar que, em vagas sucessivas, vai transformando a nossa Escola e os seus professores num circo de muito má qualidade, cheio de artistas saturados, humilhados, mal pagos e fartos de trabalharem num trapézio sem rede?
Sou regulada por um Ministério que espera que eu seja animadora cultural, psicóloga, socióloga, burocrata, legisladora, boa samaritana, mãe substituta...
Espera-se que tenha doses industriais de paciência e boa vontade, que me permitam aguentar a falta de educação de meninos mal formados, de meninos dos papás, de meninos que estão na escola apenas porque não têm ainda idade para trabalhar (porque bom corpo isso têm!), de meninos que estão na escola a enganar os pais, que até se deixam enganar por conveniência, de meninos que frequentam os Cursos de Educação e Formação e os Profissionais porque acham que é uma forma de fazer turismo com os livros debaixo do braço (desculpem, enganei-me...vou rectificar- "sem os livros debaixo do braço"), de meninos que vêm para a escola para não deixarem que outros meninos, estes últimos sim, com aspirações e provas dadas, possam seguir em frente até serem os homens que os primeiros nem sequer conseguem projectar mentalmente...
Além disso, tenho reuniões: de departamento, de conselho de turma, de equipa pedagógica, de Assembleia de Escola (pois foi...também caí na patetice de aceitar presidir a este órgão...mais uma vez a culpa foi minha, pois pessoas avisadas bem me alertaram!), de grupos ad-hoc, de reuniões para decidir quando faremos mais reuniões...Tenho legislação para ler. Labirintos de artigos em que o próprio Minotauro marraria vez após vez num ataque de fúria! Um dédalo legislativo, no qual nem Teseu conseguiria encontrar a ponta do fio.
Há papelada para preencher. Pautas dos profissionais, grelhas de observação para cada um dos alunos, registos das actividades de remediação...
Não esquecer a reposição de aulas. As dos alunos que faltam por doença, por namoro, por jogo dos matraquilhos...desde que a justificação do Encarregado de Educação seja aceite, lá tenho eu de arranjar actividades de remediação para quem não quer ser remediado!
Proibi a mim própria adoecer, visto que também tenho de repor essas aulas, mais as das greves, as das visitas de estudo dos alunos nas quais a minha disciplina não participa ( mesmo estando eu a cumprir o meu horário na escola...não faz mal, depois ofereço um bloco ou dois de noventa minutos gratuitamente!), as das minhas ausências em serviço oficial...
A questão é saber quando e como vou repor essas aulas, dado que o meu horário e o dos alunos é incompatível durante os períodos lectivos! Claro que isso não faz mal: dou dias das minhas férias! Afinal, não consta por aí que os professores estão sempre a descansar?
Tenho aulas para preparar. Testes e trabalhos para corrigir.
Devo investir na minha formação. Quando? Como? Onde?
E isto é a ponta de um rolo de lã que, bem aproveitadinho, dava uma camisola e pêras! Ou então uma camisa de onze varas!
Fazendo o ponto da situação, sobra-me pouco tempo para aquilo que gosto realmente: ensinar.
Pouco tempo para aquilo que me dá prazer: fazer circular o conhecimento.
Pouco tempo para conseguir que esse conhecimento ocupe o espaço que, na maioria dos casos, é ocupado por uma crassa ignorância.
Agora, dizem-me que vou ser avaliada ( tudo bem, não tenho nada contra o ser avaliada...talvez assim, com as novas emoções, eu descongele, pois há tanto tempo que estou no frigorífico laboral!), mas parece-me que vou voltar a uma espécie de estágio ainda pior do que aquele que enfrentei há dezassete anos atrás.
Tenho receio que as escolas se transformem num circo ainda maior.
Um circo de palhaços ricos e palhaços pobres.
Um circo de compadrios e vingançazinhas pessoais.Um circo em que uma meia dúzia de artistas vai andar vestido de lantejoulas e seguido de cãezinhos amestrados, uma outra meia dúzia vai tornar-se perita na arte do contorcionismo, para evitar obstáculos, e a grande maioria da companhia vai ter de engolir fogo para o resto da vida profissional.
Ah! Não posso esquecer que, se tudo correr de feição a este Ministério da Deseducação, até o senhor Zé da padaria vai poder presidir a um órgão de gestão das escolas.
Esta não é a profissão para a qual eu me preparei anos a fio.
Por isso, estou triste.
Estou triste.
E não escrevi sobre tudo a que tinha direito.
E esta tristeza, para que eu a consiga despejar convenientemente, tem de ser escrita, gravada com letras...não me chega falar dela.
Até porque, ultimamente, também já não me apetece falar".

Postado por FM
http://reinodamacacada.blogspot.com/

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

ME divulga os Parâmetros Classificativos - documento essencial para a elaboração dos instrumentos de registo

MENÇÕES QUALITATIVAS E PARÂMETROS CLASSIFICATIVOS (Doc do ME)

1. Salvo quando expressamente disposto de outro modo, nas fichas de avaliação aprovadas por Despacho datado de 25 de Janeiro, a classificação de cada item é expressa com as menções qualitativas expressas no artigo 46.º Estatuto da Carreira Docente e no artigo 21.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro.

2. Para efeitos de classificação quantitativa, a cada uma das menções qualitativas referidas no número anterior corresponde um determinado número de pontos (Insuficiente - 1 ponto; Regular - 2 pontos; Bom - 3 pontos; Muito Bom/Excelente - 4 pontos).

3. A diferenciação entre as classificações de Muito Bom e Excelente é assegurada pela classificação final das fichas de avaliação e pela aplicação das percentagens máximas a que se refere o n.º 4, do artigo 21.º, do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro.

4. Quando a classificação de um item ou de um parâmetro não seja expressa nos termos das menções qualitativas referidas no número anterior, a escala de classificação será expressamente indicada nas fichas de avaliação.

5. Para cada parâmetro existe nas fichas de avaliação uma coluna final com a fórmula de cálculo da classificação obtida.

6. Os padrões de referência a utilizar na aplicação de cada uma das menções qualitativas previstas no artigo 46.º do Estatuto da Carreira Docente devem ter em conta os princípios orientadores a formular pelo Conselho Científico para a Avaliação de Professores, nos termos do n.º 3 do artigo 21.º do Decreto Regulamentar 2/2008, de 10 de Janeiro.

7. Sem prejuízo do número anterior, deve atender-se às percentagens máximas referidas no n.º 3 para a determinação do grau de exigência na definição dos padrões de referência e nas classificações a atribuir.

8. A verificação do cumprimento do serviço lectivo tem por base a totalidade das aulas que o docente leccionou no conjunto das turmas que lhe estavam atribuídas em cada ano lectivo.

9. A pontuação no item A.1 das fichas de avaliação pelo Presidente do Conselho Executivo é o resultado da média aritmética das pontuações relativas aos anos lectivos em avaliação.

10. O apuramento do número de aulas leccionadas deve ter em conta o disposto no artigo 103º do ECD.

11. Para efeitos de pontuação, cada acção de formação contínua, nas áreas prioritárias definidas pela escola/agrupamento ou nas disciplinas que o docente lecciona, é contabilizada através da multiplicação do respectivo número de créditos pela classificação (de 1 a 10 valores) nela obtida.

12. A pontuação total obtida pela aplicação do número anterior, converte-se na classificação do parâmetro relativo à formação contínua pela aplicação da escala seguinte:
a. mais de 20 = 10
b. 18 a 20 = 8
c. 16 a 17,9 = 7
d. 12 a 15,9 = 6
e. menos de 12 = 0

13. Na situação prevista no n.º 3 do artigo 20.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro, a pontuação relativa aos itens em que o docente não possa ser avaliado é distribuída pelos restantes itens desse mesmo parâmetro.

14. Na situação em que o docente não possa ser avaliado em nenhum dos itens de um determinado parâmetro, a pontuação relativa a esse parâmetro é distribuída uniformemente pelos restantes parâmetros da mesma ficha de avaliação.

Documento retirado de http://ramiromarques.blogspot.com/

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Excessos

Vejo por aí muita gente satisfeitíssima com o facto de o Ministério da Educação ter dado a possibilidade às escolas de não respeitarem os prazos intermédios previstos para a avaliação dos docentes. Ou sou eu que estou a analisar mal a coisa, ou não vejo em que medida isso possa constituir um óptimo sinal para as escolas e os professores uma vez que a avaliação de desempenho se irá manter pelos períodos e nos prazos previamente estabelecidos. Em última análise, quer isto significar, que no fundamental está tudo na mesma. Ora aquilo que seria importante, a suspensão imediata deste processo avaliativo nos moldes em que foi concebido, é um propósito que, nesta altura, está bem longe de se verificar e, muito provavelmente, nunca irá acontecer. Logo, parece-me claro que não há motivos para regozijos, bem antes pelo contrário.

sábado, fevereiro 09, 2008

À Pressa e à Força

"Burocrático, complexo, difícil de aplicar e com todas as condições para ser injusto, produzindo efeitos àqueles que o Ministério pretende. É assim o sistema de avaliação de desempenho dos professores e qualquer pessoa o pode verificar lendo, não só o decreto regulamentar, como as fichas de avaliação e a parefernália de recomendações e decisões associadas. por exemplo, aquele despacho segundo o qual, não estando ainda constituído o Conselho Científico para a Avaliação dos Professores, previsto nalei, fica a presidente, até agora a única nomeada, a responder pelas restantes 20 pessoas que hão-de vir a integrar a referida entidade. O que dizer de um sistema de avaliação que, para poder ser aplicado, obriga o Ministério a desvirtuar a lei que ele próprio elaborou? E o que pensar de um secretário de Estado que assim actua só para que tudo se faça à pressa e à força?
São múltiplos os aspectos práticos da avaliação que vêm perturbar ainda mais as escolas, como é o caso, por exemplo, de os professores avaliadores deverem assistir, neste ano lectivo 2007/2008, a pelo menos duas aulas dos colegas que vão avaliar. No limite, essa obrigação pode obrigar esse professor a ter de faltar às suas próprias aulas para assistir às do avaliado, visto que o decreto só saiu no fim de Janeiro e os horários foram elaborados nas férias de Verão, podendo, portanto, sobrepor-se. Há também opções discutíveis, como a de os professores do último escalão serem avaliados como os outros: nada ficam a ganhar com uma avaliação excelente, mas podem ser penalizados se ela for negativa. Mais importante e mais grave, porém, do que estas questões menores é a própria filosofia da avaliação. O desempenho do professor está praticamente indexado ao sucesso escolar dos alunos. E isto que, em tese, parece fazer todo o sentido, na prática comporta o maior e mais perverso dos riscos, que é o de muitos professores começarem a trabalhar só para a avaliação. Se para ter boa nota for preciso dar boas notas aos alunos, mesmo sem estes as merecerem, é isso que farão os mais carreiristas e por tal serão recompensados. Ao invés, por darem notas menos boas, ainda que justas, muitos docentes podem ser prejudicados na avaliação do seu desempenho, não por serem menos capazes, mas por serem mais exigentes, mais honestos e até mais competentes. Assim se promoverá uma injustiça e se dará uma nova machadada na qualidade do ensino.
A ministra Maria de Lurdes Rodrigues teve a coragem politica de avançar com iniciativas necessárias para distinguir o trigo do joio no universo do pessoal docente. Mas com a urgência posta na aplicação de um sistema que nem sequer está devidamente regulado, faltando normas e regras previstas no próprio decreto regulamentar, corre o risco de desacreditar completamente o processo de avaliação. A insistência em aplicá-lo já este ano a trouxe-mouxe, só para o Ministério não perder a face, é a melhor forma de o matar".

Fernando Madrinha
Expresso

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Terra Naomi - Not Sorry

No país de José Sócrates

"No país ideal de José Sócrates, os dias começam com uma visita oficial, continuam com a apresentação de uma reforma de fundo e terminam com um debate contra uma oposição moribunda. No país ideal de José Sócrates, o povo compreende as mudanças, os jornais focam-se nas qualidades do Governo e os repórteres não perdem tempo a falar do passado dos políticos, a confrontarem-nos com as suas promessas não cumpridas ou a confirmarem se alguma vez fugiram à lei.
No país ideal de José Sócrates, os eleitores não querem saber se o primeiro-ministro recebeu subsídios de exclusividade indevidamente, se andou a assinar projectos de engenharia que não eram seus ou se fiscalizou obras em que era também o fiscalizado. No país ideal de José Sócrates, o povo aprecia a sabedoria do chefe do Governo, a oposição apaga-se perante a sua competência arrebatadora e os jornalistas aplaudem a sua determinação invulgar.
No país ideal de José Sócrates, até pode haver alguns jornais que colocam em causa a honestidade do líder do PS, repórteres que descobrem notícias comprometedoras, mas a RTP tratá-las-á sempre como campanhas pessoais, perseguições obsessivas e injustiças gritantes.
No país ideal de José Sócrates, ninguém protesta, poucos estão contra e todos aplaudem, o PS governará para sempre e o primeiro-ministro licenciou-se com distinção".

Gonçalo Bordalo Pinheiro
Sábado

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

O insólito acontece!

"O insólito chegou, agora um Professor para poder dar aulas tem de realizar no mínimo dois exames, um de Língua Portuguesa e um Científico. Este novo método é obrigatório para todos os Professores que sejam contratados. O mais curioso, e para não lhe chamar outra coisa, é que os Professores que se queiram submeter a esses exames, têm de pagá--los do seu próprio bolso. Ou seja, o coitado do Professor contratado, sem saber se vai dar aulas, que é o mais provável, nem sabe onde vai parar, nem sabe quantas horas vai ter, é obrigado a pagar os seus exames, para poder concorrer aos horários residuais existentes. Visto bem as coisas, faz todo o sentido, vejamos: Um estudante acaba o 12º ano e resolve acabar com a sua vida, ingressando na Universidade, numa Faculdade orientada para as Ciências da Educação, em que irá tirar um “pseudo curso” para o ensino. Gasta anualmente durante a sua vida universitária cerca de mil euros em propinas. Supondo que é um aluno exemplar, acaba o curso em quatro anos e mais um de estágio, não remunerado, claro! Totalizando o bonito valor de 5 mil euros, mil contos, na moeda antiga, a tudo isto deve-se juntar ainda, os alugueres de casa, gasolina, refeições, … O recém licenciado, suposto Professor, para poder exercer a sua função é obrigado a fazer no mínimo dois exames, e obrigatoriamente tem de ter mais de 14 valores nos dois, senão nunca poderá dar aulas. Supondo que nesse dia em que o jovem recém licenciado em suposto Professor é submetido a exame, lhe correm mal as coisas, e não consegue tirar o 14, mas sim o 13 num dos exames, de imediato, é excluído da profissão de Professor e durante esse ano, não pode concorrer para dar aulas. Mas tem sempre a hipótese de no próximo ano fazer novos exames. E o que faz esse coitado suposto Professor durante todo um ano? Como sobrevive um jovem durante um ano inteiro, sem fazer nada? Em teoria, este tipo de avaliação traria melhor qualidade ao ensino em Portugal, mas com este tipo de avaliação, passamos um atestado de incompetência a todas as Universidades, pois caso um suposto Professor consiga acabar um curso universitário, todos os comuns mortais concluiriam que depois de fazer mais de 40 cadeiras, teria conteúdos, quer científicos quer pedagógicos para ensinar, mas este Governo, julga que não! Então temos de exigir aos nossos Governantes, que também façam uns exames, antes de irem para o nosso Governo, por exemplo o de inglês técnico, ou o de mentir em público, ou a obsessão no défice, que obriga a fechar quase todos os serviços de urgência do País. Sinceramente, em que País vivemos? Um País que persegue os Professores, os Funcionários Públicos, os Advogados, os Juízes, os Comerciantes, os Empresários... Que País é este?"

Fábio Bota
* Suposto Professor (Presidente da JSD / Algarve)
Diário Região Sul

Governo desinveste no ensino

"O economista Eugénio Rosa analisou os valores gastos pelo Estado no ensino e concluiu que o actual Governo, “desde que tomou posse, movido pela obsessão de redução do défice, tem desinvestido na Educação”. Apoiando-se nos Orçamentos do Estado (OE) entre 2005 e 2008, Eugénio Rosa sublinha que naqueles três anos “o OE destinado aos ensinos Básico e Secundário diminuiu, a preços correntes, 152,7 milhões de euros”. Anulando o efeito do aumento de preços naquele período, o economista garante que “o corte foi muito maior”: uma redução significativa de 10,9 por cento entre 2005 e 2008. Face aos números da escolaridade divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, Eugénio Rosa não tem dúvidas de que Portugal está “a sessenta anos de alcançar a escolaridade média na União Europeia”.

Correio da Manhã

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Que avaliação de docentes?

"O actual diploma sobre a avaliação de docentes contém uma série de omissões e arbitrariedades e levará, na sua aplicação concreta, a situações graves, considerando que estamos a falar da vida pessoal e profissional de milhares de professores, com reflexos imediatos na qualidade do ensino futuro do país.
Na prática (e falo de casos concretos e reais que conheço), teremos professores de Educação Visual a avaliar a competência técnica e pedagógica de professores de Educação Física. Um professor de Geografia, do 8º escalão, a aferir a qualidade de ensino de um professor titular do 10º escalão, coordenador na escola, do agrupamento de Economia ou Contabilidade. Um professor de Biologia a verificar a justeza do planeamento de Matemática e da adequação dos seus testes escritos aos alunos de cada turma. Etc.
A propalada justificação de que nem todos os militares poderão chegar a generais, como gostavam de dizer os responsáveis pela política educativa, passa então, no nosso insólito sistema de ensino, por esta via: um sargento da Marinha, a quem nunca foi exigido sequer se sabe nadar, irá aferir da competência de um general aviador certificando que está em condições de voar. E ambos foram “encartados” pelo sistema de pontos do tal concurso de titulares.
A necessidade de ultrapassar os “indicadores de medida” levará os professores a “puxar” cada vez mais as classificações dos seus alunos, que em breve atingirão os vinte valores. Só que, com uma diferença: o professor que tiver exames finais será confrontado, com a diferença entre a sua classificação e a dos exames. Os professores sem exames finais…nem por isso.
Teremos professores beneficiados na avaliação porque, de antemão, têm cargos atribuídos nos horários ou integram actividades diversas (e isto dependeu, em larga medida, das necessidades do preenchimento de horários). Teremos professores beneficiados à partida na avaliação do item da “relação com a comunidade”, em função da presença dos pais nas reuniões das turmas dos centros mais urbanos ou dos cursos que leccionam (vejam-se os cursos técnicos ligados à Acção Social, por exemplo).
E onde está o tempo para preencher fichas atrás de fichas, proposta do avaliado, planos, autoavaliações, instrumentos de registo, planos de aulas… E as aulas? E os testes? E as aulas de substituição? E as reuniões que, para resolver estes problemas, já duram seis e sete horas? E as reuniões entre coordenadores e professores a avaliar, nalguns casos em números bem elevados? E as acções de formação que continuam obrigatórias? E como se avaliam os professores sem funções docentes? Ah, diz o diploma que “pelo serviço que lhes tiver sido distribuído pelo Órgão Executivo” e ponto final. Uma avaliação equitativa, objectiva, rigorosa. Não é?
Pede-se uma intervenção urgente do Presidente da República. Hoje, há revolta, humilhação, desmotivação, cansaço entre os docentes".

F.A.
Professor do 10º escalão
Jornal Sol

Avaliação dos professores comprometida

"Mais de duas dezenas de agrupamentos de escolas, de vários pontos do País, comunicaram ao Ministério da Educação que é “impossível” avançar com a avaliação dos professores segundo as regras estabelecidas no Decreto Regulamentar n.º 2/2008, de 10 de Janeiro".

Correio da Manhã

sábado, fevereiro 02, 2008

Cat Power - Willie

A Escola Democrática

"No noticiário da RDP de ontem de manhã, que ia ouvindo na lentidão do IC19, avultava a notícia da manifestação dos alunos do secundário. Um “estudante” lá ia explicitando o nobre motivo da manifestação: razões várias e ponderosas!...
Em primeiro lugar, a luta contra o excesso de tempo passado na escola. O aluno referiu mesmo a sua experiência pessoal, a violência extrema de ter que se levantar todos os dias às sete horas e meia, para ter a primeira aula às oito horas e só sair às 16 horas e quarenta minutos!...
Em segundo lugar, a luta por uma verdadeira educação sexual, disciplina básica dada de forma insuficiente.
Em terceiro lugar, a luta contra as aulas de substituição.
Em quarto lugar, a luta contra os exames.
E havia mais uma ou duas razões muito justas, mas que agora me escapam.
À noite, no sentido inverso, e também na RDP, a inefável Drª Ana Benavente, antiga Secretária de Estado da Educação de um Governo de Guterres, representando um qualquer grupo ad-hoc, não sei se formado apenas para a entrevista, também perorava exaltadamente sobre o tema, nomeadamente sobre a falta de democracia nas escolas. Não resisti e pus música.
Visto tudo isto e concluído, a escola como local de ensino já foi.Modernamente, e em Portugal, a escola é para se passar por lá, assistir a umas aulas facultativas, porque se pode faltar à vontade, ter umas aulas teóricas de educação sexual, e sair rapidamente, para ter tempo de praticar.
Respeito pelos Professores? Aulas obrigatórias? Possibilidade de reprovar por faltas? Exames? Possibilidade de reprovar por falta de conhecimentos? Quem é que ainda fala nessas excentricidades? Mas não basta: há ainda muito para aprofundar na escola democrática!...
Por mim, estou de acordo e aprofundava-a de vez. Num buraco profundo e bem fechado, mas bem assinalado, para não esquecer a imbecilidade dos que a vêm promovendo".

Pinho Cardão