terça-feira, outubro 30, 2007

Tolerância zero à mentira

Em mais uma manobra de propaganda, Maria de Lurdes veio anunciar, com pompa e circunstância, o facto de o insucesso escolar ter diminuído 7% no ensino secundário, nos últimos dois anos. Devia também ter dito, à luz da verdade, que isto só acontece graças à manipulação dos resultados. Deixando de fora as saídas precoces da escola, não considerando o abaixamento do nível de exigência e com as passagens administrativas que se verificam nos cursos profissionais, o difícil seria não apresentar melhores resultados. Se a esta redução correspondesse uma efectiva melhoria na qualidade das aprendizagens dos alunos, aí sim, havia razões para contentamento. Como, infelizmente, estes números não descrevem a realidade, longe disso, mais valia que a senhora tivesse ficado calada e deixasse de se aproveitar da ignorância dos portugueses para os enganar a torto e a direito. Verdade se diga que esta forma de estar não é exclusiva de Maria de Lurdes. A "chico-espertice" estende-se a todo o elenco governativo e já enoja. Num país a sério este tipo de atitudes seriam devidamente castigadas. Por cá, ao invés, o crime por norma compensa: em vez de sofrerem as consequências dos seus condenáveis actos esta malta prepara-se, como indicam as sondagens, para mais um mandato de governação. É caso para dizer: estamos lixados!

segunda-feira, outubro 29, 2007

Maria de Lurdes igual a si própria

A ministra da Educação acusou hoje o CDS/PS de “prestar um mau serviço aos jovens” ao difundir a ideia de que é possível faltar e passar de ano. Segundo a ministra, esta afirmação é uma enorme falsidade uma vez que o novo estatuto, ao contrário do anterior, é muito mais exigente em matéria de assiduidade dos alunos. Ao dizer o que disse, Maria de Lurdes, ou está esquecida ou manifesta um profundo desconhecimento do que consagrava o anterior estatuto que, como todos nós sabemos, penalizava os alunos com uma retenção caso estes ultrapassassem o limite de faltas previstos na lei, algo que não se passa com o novo estatuto em que o aluno tem a possibilidade de transitar de ano caso fique aprovado numa prova de recuperação.
A propósito desta mentira descarada, apresento aqui um excelente comentário anónimo, via jornal “Público”, que vale a pena reproduzir:

“Pois se é a verdade, nua e crua! Está escrito preto no branco, no novo Estatuto do aluno: os alunos que até aqui reprovariam por excesso de faltas, já não reprovam, bastando para isso fazer uma "prova de recuperação" que nem sequer está explicado, o que acontece se o aluno também faltar a essa prova. Provavelmente fará uma "recuperação" da Recuperação. Lurdes Rodrigues, nos seus desvarios de incompetência, não queria é que ninguém levantasse ondas nem denunciasse publicamente a situação. E que quer ela dizer com "se o aluno falta, será chamado à atenção"? Alguma rábula do Director de Turma, do género "isso não se faz à Tia"? Sim, porque depois deste "mamarracho" aprovado, o DT pouco pode fazer se o aluno quiser mesmo andar na balda. Aliás a Sinistra, perdão, Ministra, mete os pés pelas mãos ao tentar explicar o inexplicável: as escolas vão ser dotadas de meios para intervir nas faltas? Acabar com a burocratização? Restituir autoridade aos professores? Quando praticamente se legaliza as faltas dos alunos, passando claramente a mensagem que se excederem o limite não faz mal, há sempre uma "prova de recuperação..."? Mas qual reforço do controle de faltas? Mas qual reforço da autoridade do Director de Turma? E ainda vem defender publicamente este disparate colossal, falando das responsabilidades dos "outros"? E o propalado "líder" das associações de Pais junta-se a ela no coro, ao defender também este atentado!!! Ele que se fartou de falar das faltas dos Professores agora defende a liberalização - porque é disto que se trata, não tenham dúvidas - das faltas dos alunos? Se calhar quer que os Professores vão à procura dos alunos pelos corredores pedir-lhes que venham à aula, não? Eis os resultados de maiorias absolutas: por muitas asneiras que se façam está-se sempre a salvo de perder o lugar. Pelo menos até às próximas Legislativas...”

domingo, outubro 28, 2007

As lições que a escola vai dando

"Há sempre boas explica­ções gara tudo. Para o fim das faltas justifica­das nas escolas o secre­tário de Estado da Educação ar­ranjou uma bem simples: as faltas, disse ele, levavam a que os alunos chumbassem e ficassem parte do ano sem escola, numa situação insustentável. Ao mes­mo tempo, muitos pais justifica­vam fraudulentamente as faltas dos filhos. Era preciso acabar com isso.
Decretou-se mais exigência? Não! Decretou-se o fim da dife­rença entre faltas justificadas e injustificadas.
Doravante, um aluno com fal­.tas a mais (seja por doença seja por estar num centro comercial a fumar cigarros) sujeita-se a uma prova, especial para ele, que pesará na avaliação final o que o professor entender.
Enfim, entende-se que os miú­dos não podem andar aí pelas ruas, em vez de estarem nas es-
colas. Quando faltam, a escola notifica os pais e prepara-lhe a prova 'de recuperação'.
Isto, no fundo, deve-se à - per­doe-se-me a expressão, mas não vejo melhor - baldá total nas es~ colas. Dá-se de barato q~ há alunos que faltam. E como as re­comendações do Ministério (e as necessidades estatísticas) im­pedem o chumbo (perdão, a re­tenção do aluno) ia tudo passan­do de ano, mesmo sem saber ab­solutamente nada, a menos que faltasse demais.
Com as provas de 'recupera­ção' acaba-se este ciclo. A partir de agora o aluno faltoso deve fa­zer a prova. Se tiver boa nota, as faltas não interessam para nada; se tiver má nota, não se percebe bem o que acontece, uma vez que a retenção (vulgo chumbo) não e coisa que se faça, pelo me­nos no ensino obrigatório.
E, assim, as nossas adoráveis crianças descobrirão que faltar p"ode bem ser a forma mais fácil
de passar de ano. Não chumbam nem são excluídas da escola e an­dam na rua à mesma! Depois lá fazem um testezinho e pronto! Imagine-se o diálogo de um pai com o filho:
- Andas a faltar à escola?
- Não faz mal, eu faço a prova de recuperação.
E assim se passam valores pa­ra a"vida. Pena devem ter os tra­balhadores de não terem génios destes à frente das suas empre­sas. Faltar quando apetece e, de­pois, trabalhar um bocadinho ­nada que afecte as meninges ou o físico; nada que afecte o salá­rio contratado.
São lições que se ganham nas nossas escolas vítimas do fardo 'eduquês' dos legisladores.
Por mim, já nem tenho espe­rança na salvação. Quem pode, tem os filhos nas escolas priva­das; quem não pode, aguenta; quem não sabe, é excluído. A exi­gência é uma palavra banida des­te sistema educativo".

Henrique Monteiro
Expresso

sábado, outubro 27, 2007

Uma certa utopia de escola pública

"Foram divulgados os rankings das escolas relativos ao ano lectivo de 2006/2007. Permanecem os mesmos fenómenos de sempre. As escolas de topo do ranking são escolas privadas que conseguem sobreviver apesar de competirem com escolas públicas que não cobram propinas. As médias das notas que resultam da avaliação interna são superiores às médias obtidas em exame nacional. Esta discrepância é maior nas escolas com piores resultados nos exames nacionais, o que indica que os concursos de acesso ao ensino superior são viciados por escolas que inflacionam as notas internas. Os rankings continuam a indicar que as escolas do litoral têm melhores médias que as escolas do interior e que as escolas próximas de bairros ricos têm melhores médias que as escolas próximas de bairros pobres.
Estes resultados demonstram o fracasso de uma certa utopia de escola pública. Aquela utopia que nos diz que a escola pública acabará com as diferenças sociais e produzirá igualdade de resultados entre pessoas de meios sociais diferentes. São os próprios defensores dessa utopia que, perante os rankings, o reconhecem. Como os rankings mostram que as escolas mais bem classificadas são escolas privadas, os defensores da utopia da escola pública são forçados a alegar que os resultados das escolas privadas se devem à origem socioenonómica dos seus alunos. Dizem que o meio socioeconómico influencia mais os resultados que a qualidade da escola. Reconhecem, em última análise, que, ao contrário do que diz a utopia, a escola pública está muito longe de anular os efeitos do meio socioeconómico.
Os defensores da escola pública alegam ainda que as escolas privadas de topo têm melhores resultados porque seleccionam os seus alunos. Segundo eles, a escola pública é uma escola que não discrimina ninguém. Ora, este é mais um indicador de que o conceito de escola pública que defendem é utópico. A melhor escola para um dado aluno é aquela que tem, não apenas os melhores professores, os melhores métodos e as melhores instalações, mas também os melhores colegas. Nenhum pai quer que o filho tenha colegas que perturbam o ambiente escolar. As escolas melhores são aquelas que seleccionam os seus alunos. As escolas da utopia não podem fazer essa selecção e serão sempre medíocres. São os pais, os professores e o próprio Ministério da Educação os primeiros a recusar e a conspirar contra a utopia. Os pais mais bem informados tentam colocar os seus filhos nas escolas com o melhor ambiente socioeconómico. A formação de turmas de elite dentro das escolas públicas é uma prática comum. As políticas do Ministério da Educação levam os melhores professores para as escolas das zonas economicamente mais favorecidas. A utopia é irrealizável"

João Miranda
Diário de Notícias

sexta-feira, outubro 26, 2007

O Novo Estatuto do Aluno

Com o novo estatuto do aluno, está aberto o caminho para o caos na escola pública. O aluno agride, rouba, destrói, uma, duas, três, quantas vezes quiser que o pior que lhe pode suceder é ir 10 dias para casa, supostamente para se acalmar. Acabado esse período de férias forçadas (mas muito bem gozadas, presumo eu) volta de novo à escola e com carta branca para repetir a dose de agressões, de roubos e de destruição. Expulsar o aluno? Nem pensar! Seria mais um abandono escolar a contabilizar e isso é coisa que o nosso governo não permite pois comprometeria as estatísticas de sucesso. Prometia a ministra, há bem pouco tempo, que iria reforçar a autoridade dos professores na escola. Esta é a prova que faltava de que esta gente mente compulsivamente e, bem mais grave, com a maior das impunidades.
Como esta medida ainda não era suficiente, a bancada socialista decidiu colocar a cereja no topo do bolo ao decidir que as reprovações por faltas deixam de existir. Os alunos que excederem o número limite de faltas previstos por lei terão agora a possibilidade de fazerem uma ou várias provas de recuperação, tantas quantas as necessárias, até conseguirem a aprovação. Se isto é promover um ensino de qualidade eu vou ali e já venho!
Quem deve estar em êxtase com estas decisões são os alunos que vêem assim a sua vida facilitada. Os pais também devem estar felizes. Pelo menos a maioria (exceptuam-se aqueles que ainda se vão preocupando com a formação dos seus filhos). Aliás, o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais já deu o mote ao considerar “a medida generosa porque permite dizer ao aluno que a escola está sempre aberta”. Segundo ele deu-se um passo em frente. Realmente com este novo estatuto damos um passo em frente, mas na direcção do abismo.
Uma coisa é certa. Dentro de um par de anos seremos imbatíveis nas estatísticas europeias de combate ao insucesso e ao abandono escolar. O pior será quando os nossos alunos confrontarem conhecimentos com os seus colegas europeus nas provas internacionais. Aí o embuste vai ser desmascarado e sempre quero ver como Sócrates irá descalçar a bota.

P.S. Aguardo expectante o que a nossa comunicação social terá a dizer sobre tudo isto. Em especial, os habituais opinadores que não se têm cansado de elogiar o trabalho da ministra. Não que tenha grande fé na sua honestidade intelectual. Mas, ainda assim, não deixo de estar curioso em ouvir e ler as prováveis barbaridades que serão ditas e escritas sobre este assunto.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Ranking das escolas

"Com nove nas dez primeiras, a liderança das escolas privadas no ranking 2007 é inquestionável. Mas é abusiva qualquer leitura apressada que coloque as escolas privadas como naturalmente melhores que as públicas. As primeiras tendem a lidar com elites, tanto económicas como culturais, e são as segundas que enfrentam o desafio do país real. Para perceber que são as escolas públicas que convivem com o ensino de massas basta elaborarmos uma listagem das escolas onde se realizaram mais de 500 provas para se perceber que entre elas (quase cem) apenas existem três privadas e que a melhor não vai além do 4.º lugar.
No fundo, até que ponto se pode elogiar o primeiro lugar do Colégio Mira Rio, que funciona em Lisboa e somente para raparigas, e deixar, por exemplo, de sublinhar a qualidade da Secundária Manuel da Fonseca, em Santiago de Cacém, que consegue o 30.º lugar apesar de funcionar nesse Alentejo meio esquecido?
E se o ensino público não pode ser confundido com más escolas, também o ensino privado nem sempre é sinónimo de qualidade. Basta notar que nas dez piores do ranking estão três estabelecimentos privados, cinco se contarmos com duas escolas que funcionam no estrangeiro.
Numa sociedade aberta como Portugal tem de haver lugar para o ensino privado, sobretudo de qualidade. Mas convém não esquecer que é o ensino público aquele que tem obrigação de garantir a igualdade de oportunidades. E é defendendo-o e tornando-o melhor que se garante um Portugal melhor".

Editorial
Diário de Notícias

segunda-feira, outubro 22, 2007

Palavras sábias

Extracto de uma entrevista de Marçal Grilo, há sete anos atrás, após deixar a pasta da Educação.

Nunca sentiu falta dessa formação em Ciências da Educação?
Não. Nunca me fez falta. Acho que as Ciências da Educação têm um contributo muito importante para o futuro da educação, mas têm uma linguagem e uma forma de abordar os problemas… Não me fez falta, e não sei se faz falta a alguém, em termos de política educativa. Eu não tenho nada contra as pessoas das Ciências da Educação.
Num gabinete de Ministro, ou de Secretário de Estado, faz mais falta um jurista do que alguém especialista em Ciências da Educação?
Um jurista é absolutamente indispensável.
Era uma coisa que faltava no gabinete da sua Secretária de Estado, mas havia muita gente de Ciências da Educação.
Eu nunca tive ninguém. As Ciências da Educação são uma área… Conheço uns textos, mas a linguagem… Há uma coisa em alguma da sua mensagem que me faz um bocadinho de impressão. Talvez seja heresia o que estou a dizer: à educação e formação das pessoas está ligado trabalho intenso, esforço, algum sacrifício. O estudar ou formarmo-nos não é sempre uma coisa agradável, muito colorida. O rigor, a disciplina, o trabalho, fazem parte do processo educativo e quanto mais cedo se aprender isto melhor. Acho que, aqui, as Ciências da Educação simplificam um bocadinho.
No sentido da permissividade?
Não, mas no sentido em que há uma super-vontade de aceitar tudo e de tudo desculpar, e de tudo entender, e de tudo compreender, e de tudo justificar.(…)
Há, muitas vezes, a sensação de que as pessoas que giram em torno da educação são quase sempre as mesmas?
Não é só isso. Eles, no mundo da educação, conhecem-se todos uns aos outros. E têm ódios internos, os seus amores e as suas desavenças. Isso está permanentemente a vir ao de cima. Por exemplo, com aqueles que não gostam das Ciências da Educação (sou insuspeito nessa matéria, porque sou engenheiro mecânico… por isso estou completamente fora dessas questiúnculas), isso é perfeitamente notório.
Por isso não fala eduquês?
Pois. Nunca falei. Mas, dentro do mundo das pessoas que falam sobe educação, que fizeram teses sobre educação, há escolas entre eles, conhece-se dos júris, das teses, das faculdades, dos estudos que fizeram no estrangeiro, etc. Escrevem coisas que, muitas vezes, são reflexo das posições que têm à partida e não propriamente em relação ao tema específico. Este é mais um pretexto para voltar a afirmar determinada posição contra o senhor tal ou a senhora tal.
Reconhece-lhes algum valor, porque chamou alguns deles para fazerem estudos…
Com certeza. São doutorados, são pessoas qualificadas, com grandes qualidades, mas, na expressão das suas posições públicas, normalmente escrevem por razões que não têm a ver com o tema em si, mas com o que está por detrás disso.
Pensa, então, que há um grupo de pessoas que acha que percebe muito sobre educação e, afinal, percebe pouco?
Eu acho que devem perceber. O cidadão normal tem obrigação de saber coisas sobre educação, todos nós passamos pela escola".

sexta-feira, outubro 19, 2007

Exames só com matéria do 12º ano

"Os alunos que estão no 12.º ano e que realizem exames nacionais no final deste ano lectivo vão ter menos matéria para estudar. Uma portaria do Ministério da Educação (ME) determina que os exames às disciplinas trienais (Português, Matemática A, História A, Língua Estrangeira e Desenho A) incidam apenas sobre os programas do último ano, em vez de avaliarem os três anos do Secundário".

Invariavelmente, toda e qualquer orientação vinda do Ministério da Educação aponta no caminho do facilitismo ( a exigência é só para os professores). E assim se promove o sucesso escolar em Portugal.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Caixa Geral de Aposentações recusa reforma a professora com cancro na língua

Crueldades deste calibre nem no tempo de Salazar. Em contrapartida, com este governo, estas e outras selvajarias vão-se tornando o pão nosso de cada dia. De forma incompreensível e com o beneplácito da maioria dos portugueses, conforme indicam as sondagens. É caso para dizer: estranho povo este que permite que pessoas nestas condições sejam obrigadas a manter-se no activo enquanto deputados e gestores públicos se vão “abotoando” a indignas reformas milionárias que pouco fizeram por merecer. Um novo 25 de Abril precisa-se. E com a máxima urgência.

quinta-feira, outubro 11, 2007

quarta-feira, outubro 10, 2007

Menos paleio e mais acção, é o que se exige

Nos seus habituais comentários das terças-feiras na TVI, Miguel Sousa Tavares, convidado a fazer uma apreciação sobre os acontecimentos da Covilhã, não desaproveitou a oportunidade para mais uma vez zurzir nos sindicatos de professores. Até aqui tudo normal: é sabido que o indivíduo não suporta os representantes legais dos professores, em especial a Fenprof, por quem nutre um profundo ódio, como aliás tem sido notório sempre que se pronuncia sobre temas da educação.
Mas o que mais me incomodou na dita intervenção foi ele dizer que ainda está por provar se os professores se revêem na contestação que os sindicatos fazem relativamente à política educativa do governo, apresentando como exemplo dessa sua tese o famigerado ECD. São estes considerandos que deviam fazer tocar os sinais de alarme da classe docente. Declarações como esta deviam preocupar todos os professores pois pode prevalecer a ideia de que MST é bem capaz de ter razão naquilo que afirma. A verdade é que nesta luta contra as diatribes do Ministério da Educação só os sindicatos se chegam à frente. Da parte dos professores continuamos a assistir a uma passividade preocupante que não abona em nosso favor. A atitude da maioria dos professores faz-me lembrar a velha imagem que o mundo do futebol costuma ter do futebol português: muito rodriguinho, muita capacidade técnica, mas na hora de rematar à baliza adversária somos um completo desastre. Com os professores passa-se exactamente o mesmo: muita retórica, muita falinha mansa, aparentemente muita vontade em demonstrar a nossa indignação mas no momento de traduzir esse descontentamento em actos concretos falhamos rotundamente. Assim sendo, não devemos depois admirar-nos que a opinião pública e MST em particular, possam ter naturais reservas sobre se os sindicatos efectivamente são a voz da contestação dos professores ou se ao invés se representam a si próprios.

A improdutiva Área de Projecto

"Costumo ler a secção "Pingue­-Pongue", onde escrevem, alternadamente, Rui Tavares e Helena Matos. Estando mais atento e manifestando mais interesse pela opinião da v/colaboradora, porque mais objectiva, mais pragmática e realista, não posso deixar de concordar, de uma maneira geral, com as análises que Helena Matos desenvolve, principalmente quando envereda por temas relacionados com a Educação. E, na minha opinião, sabe do que fala. Exemplo vivo disso foi a sua afirmação, no passado dia 11 de Setembro, de que a "Área de Projecto" é uma fraude". Sem dúvida.
Como professor - e leccionando, contrariado, esta abominável "disciplina" da área curricular não disciplinar -, verifico que a carga horária da mesma interfere com outras disciplinas, bem mais importantes, para a formação intelectual e científica dos jovens, coarctando-lhes a liberdade para o convívio, para a partilha, para o desporto. Em suma: sobrecarrega­-lhes os horários.
De resto é sabido que a designada Área de Projecto (AP), introduzida no ensino básico e secundário, pouco ou nada tem contribuído para a suposta autonomia, organização, capacidade de trabalho e espírito de inter·ajuda dos alunos. Esta cretina invenção dos "cientistas da educação" tem contribuído, ainda mais, para o descalabro e decadência do ensino no nosso país. Esta área curricular não disciplinar, a famosa A.P., acaba por degradar a qualidade da relação professor-aluno; promove e estimula a balbúrdia e a indisciplina; desvaloriza o verdadeiro conhecimento; sobrecarrega os curriculos e impede que outras áreas do conhecimento como as ciências, geografia, filosofia e história disponham de mais horas. Aliás, é patente a revolta dos professores das disciplinas que referi por verificarem que várias horas lectivas são desperdiçadas na vacuidade da AP, enquanto não lhes sobejam horas para desenvolverem, com proficiência, a consolidação dos conhecimentos e as matérias das disciplinas aludidas. Também tenho constatado, como professor, que os melhores alunos não gostam desta "disciplina" pois afirmam que é inútil, maçadora, vazia, "roubando-lhes" precioso tempo para estudarem as disciplinas fulcrais que os prepararão, verdadeiramente, para a vida profissional. Deixemo-nos, de uma vez por todas, de tretas, do "encher chouriços" e do "eduquês" que está subjacente à Área de Projecto! Não se inventem ocupações sem sentido algum, sobrecarregando os alunos! Já nos basta o supérfluo Estudo Acompanhado e a inoperante Educação Cívica que podem, muito bem, "substituir" a vacuidade da AP. Por estas e por outras é que a decadência da educação vai continuar. Convirá lembrar que, em grande parte, os factores do fracasso do sistema educativo português são os "cientistas da educação" que, com as suas teorias e o gosto pela papelada inútil, se instaIaram no sistema educativo e continuam, de forma perniciosa, a influenciar as determinações dos ministros. Mais: continuam estes "cientistas" enredados numa visão panglossiana a falar em sucesso educativo nesta escola democrática massificada, sucesso esse que - com esta política educativa de torniquete e sopeamento dos professores -, há-de vir numa manhã de nevoeiro envolvendo os ditos iluminados encabeçados pelos "três mosqueteiros" (uma e dois) que julgam, ilusoriamente, estar realizando um trabalho meritório e profícuo no Ministério da Educação ...
(...) Enquanto isso os alunos continuam com a indisciplina, a violência, os maus comportamentos dentro e fora da sala de aula e a isto o ministério nada diz. Ou melhor, descarta-se "dizendo": aturem-nos e aguentem. Se não conseguirem metam baixa e inundem os consultórios dos psiquiatras!".

António Cândido Miguéis
Vila Real

sexta-feira, outubro 05, 2007

O discurso de Cavaco Silva

Muitos professores terão ficado com a lágrima ao canto do olho só porque o Presidente da República alertou para a necessidade de se prestigiar a função docente. Pensam eles que o discurso de hoje pode constituir um sinal de mudança. Decididamente a classe não aprende. Não foi Cavaco Silva que promulgou um ECD que só desprestigia e desqualifica a profissão? Alguém o viu colocar em causa a constitucionalidade do documento quando havia pareceres a indicar a inconstitucionalidade de vários artigos? Porventura veio defender os professores dos constantes ataques de que têm sido vítimas por parte da tutela e da sociedade civil? Alguma vez criticou a política educativa do Governo? Caríssimos colegas, não sejam ingénuos, não se deixem levar por discursos de circunstância. Estas palavras, como bem sabemos, vão ser levadas pelo vento. Não terão efeitos práticos rigorosamente nenhuns. O Governo irá continuar a sua campanha de combate aos professores e estes manterão a sua habitual passividade, ou seja, continuarão a comer e a calar como sempre têm feito até aqui. Querem apostar?

quarta-feira, outubro 03, 2007

Realidade vs Marketing

"Os discursos oficiais anunciavam um caminho capaz de tirar Portugal rapidamente dos últimos lugares no que respeita à qualidade do ensino.
As famílias que se preocupam com o futuro dos filhos já tinham razões para desconfiar de tão fabuloso marketing, porque a experiência de grande parte das escolas desmentia o optimismo oficial.
É também por causa da deficiente qualidade do ensino público que as melhores escolas privadas das grandes cidades têm listas de espera infindáveis. Muitas escolas públicas transformaram-se em simples depósitos de alunos, onde a preocupação dos professores é cumprir o programa, aprendam os alunos ou não.
No final do ano passam todos para evitar chatices e pressões por causa das más estatísticas. Assim chegam ao antigo ciclo preparatório alunos que praticamente não sabem ler, escrever ou contar. E concluem o Ensino Secundário jovens que não conseguem entender o sentido de um texto.
Há alunos sem professor, escolas sem condições e contentores transformados em salas de aula.
Não basta as boas intenções do Ministério para que a Educação seja um efectivo investimento no capital humano".

Armando Esteves Pereira
Director Adjunto
Correio da Manhã

terça-feira, outubro 02, 2007

Escola triste, triste Escola...

"A inauguração oficial de mais um ano lectivo, distribuída por diversos estabelecimentos de ensino, foi um espaço de afirmação de um poder que mexe, que sabe aparecer, que manda, que controla, que até oferece computadores com uma prodigalidade nunca vista!... Tudo sucedeu em ar de festa… Para tentar alegrar (ludibriar?) a malta?... Apenas para inglês ver?...
Não assisti a nenhum desses actos. Discordo do seu formato tradicional, muito formal, com convidados importantes, bem trajados e frios. Daqueles que não passam cartão ao povo, sobretudo aos alunos que não lhes batem palmas nem lhe estendem a passadeira. Reprovo o repetido aproveitamento destas sessões. Têm um ar postiço, cheiram a falso. Será que mobilizam as comunidades escolares?... Não creio…
Neste início de ano lectivo, por razões diversas, fui visitar três escolas. Quando lá cheguei, já estavam a funcionar. Ou, melhor, já estavam atulhadas de gente. Em todas elas reinava a confusão. Seria a barafunda própria do recomeço?... Talvez. Vejamos: encontrei professores de cabeça baixa, em fila de espera, sentados nos sofás dos corredores de acesso aos Gabinetes dos Conselhos Executivos, resmungando contra a sobrecarga dos seus horários, barafustando contra a incerteza e a indefinição que caracterizam o momento actual da Escola Portuguesa; ouvi pais e encarregados de educação indecisos, desconfiados com o rumo da educação escolar ministrada aos seus educandos; falei com empregados ensonados, indiferentes ao momento, passivos, à espera de melhores dias; escutei alunos com a atenção voltada para a brincadeira, confortados com o convívio do recreio, enfadados com o recomeço das actividades lectivas.
As três escolas que eu visitei são o espelho da Escola Portuguesa. Uma grande Casa sombria, triste, desanimada, sem esperança, derrotada.
Aquele acumular de tristeza que invade as nossas escolas, que lhes arrefece o ambiente, incomodou-me. Fiquei impressionado, desolado. Como é que o ensino pode frutificar num terreno tão abandonado, tão melancólico, tão desapontado? Como é que os alunos e os professores podem desenvolver um trabalho alegre e produtivo num espaço inundado de revolta surda e de desapontamento? Como é que nós queremos que as nossas escolas sejam agentes positivos de mudança quando elas estão transformadas em ninhos de uma enorme e generalizada revolta e frustração?
Que tristeza!... Que desgosto ver a Escola mergulhada na mais profunda desolação e amargura!... Que dor!... Haverá inaugurações oficiais, com festas e com brindes, que sejam capazes de mudar o estado de alma das nossas escolas? Não cremos. As causas da tristeza são profundas, são estruturais, entroncam num sistema remendado que não entusiasma ninguém, em práticas continuadas de afronta e de descrédito dos profissionais do ensino, numa navegação à vista, na prevalência de critérios de natureza financeira sobre critérios de ordem pedagógica, numa nova categorização dos docentes que comporta as mais gritantes injustiças, etc.
Uma Escola triste, não pode entusiasmar ninguém, não pode animar e pintar de esperança o futuro das crianças e dos jovens que a frequentam. Ou seja, uma Escola triste não pode cumprir o seu papel, a sua função.
Uma Escola triste é uma fonte de amargura que se espalha por toda a sociedade. Já viram o que sente um jovem, na sua irrequietude e vontade de viver, ao encontrar na escola um ambiente acabrunhado e pesaroso? Não liga.
Uma Escola triste é uma triste Escola... Anda muito triste a Escola Portuguesa... Os jovens não gostam de ambientes deprimentes… Mudemos a Escola, rapidamente, para que os jovens, libertos deste desconsolo, possam mudar esta Sociedade murcha em que nos vamos consumindo".

José Fernando Rodrigues Alves Pinto
Mestre em Estudos Económicos e Sociais
O Primeiro de Janeiro

segunda-feira, outubro 01, 2007

O homem odeia os professores

"Saiu o regulamento para a classificação dos professores com vista à sua subida na carreira. Desapareceu a enormidade da participação dos pais no processo (a menos que sejam os próprios professores a requerê-lo), evitou-se a discriminação entre escolas boas e escolas "difíceis" e o que restou pareceu-me um sistema adequado e justo para premiar o mérito, a assiduidade e o esforço - certamente melhor do que nada. Mas, claro, a Fenprof está contra - como sempre, sempre, está contra qualquer medida que exija resultados ao sistema e aos professores e que tente inverter a situação catastrófica em que tem vivido o ensino. À fenprof interessa apenas o que respeite ao bem-estar dos professores, mesmo à custa da perpetuação do subdesenvolvimento cultural do país. A Fenprof acha que um professor que falte deve ter os mesmos direitos que um que não falte; acha que um que obtenha melhores resultados não deve ser beneficiado relativamente a outro que se está nas tintas para os resultados dos alunos; acha que um sistema de classificação em que nem todos podem obter a classificação máxima está desvirtuado à partida; acha, em suma, que classificar professores em função do seu mérito e dos resultados obtidos é uma ofensa aos direitos adquiridos".

Miguel Sousa Tavares
Expresso